quinta-feira, 9 de outubro de 2025



09 de Outubro de 2025
ARTIGOS

A ciência como linguagem global

Ir. Manuir Mentges - Reitor da PUCRS

Nos últimos dias, tive a oportunidade de participar de uma missão à China, onde visitei universidades e parques tecnológicos, além de acompanhar a 42ª edição da Conferência da Associação Internacional de Parques Científicos e Áreas de Inovação (Iasp). Foram momentos intensos de aprendizado e de contato com experiências que revelam não apenas a vitalidade dessas áreas no país, mas também a força transformadora que elas exercem sobre a sociedade.

Mais do que estruturas impressionantes ou números grandiosos, o que se evidencia na China é a articulação sistêmica entre educação, ciência, tecnologia e inovação. Os parques científicos e tecnológicos não são apenas espaços de desenvolvimento empresarial: eles estão profundamente conectados às universidades, à formação de talentos e à produção de conhecimento, constituindo-se como motores do desenvolvimento nacional.

A ciência, nesse contexto, é uma linguagem global. Ultrapassa fronteiras geográficas, barreiras culturais e diferentes sistemas políticos, com um mesmo propósito: a busca pelo conhecimento e pela inovação. Essa experiência reforçou em mim a convicção de que uma nação que pretende se desenvolver coloca a educação e a inovação no centro de sua estratégia. A cultura também desempenha um papel decisivo nesse processo. E é nesse diálogo entre ciência, educação e cultura que uma nação encontra não apenas caminhos para o progresso, mas também fundamentos éticos e humanos para a construção de sociedades mais justas, solidárias e criativas.

A missão realizada na China permitiu observar de perto esse movimento: universidades e ecossistemas de inovação e empreendedorismo pujantes, políticas consistentes de formação de talentos e uma vitalidade cultural que conecta tradição e futuro. As vivências em Xiamen e Pequim evidenciaram o quanto a ciência é estratégica para o futuro das nações e como a cooperação internacional abre novas possibilidades para instituições de ensino e pesquisa no mundo inteiro.

Acostumamo-nos a olhar para a China e dizer made in China. Hoje, diante da vitalidade de seus ecossistemas, o mundo vê a transformação gerada nos últimos anos, em que o foco passou a ser create in China. _

Justiça brasileira: produtividade em meio a desafios

Cláudio Martinewski - Desembargador do TJRS e vice-presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB)

A Justiça brasileira é frequentemente criticada quanto à morosidade. Uma análise comparativa entre Brasil e Europa revela um cenário surpreendente: apesar da carga processual significativamente superior, o Judiciário brasileiro demonstra uma produtividade notável.

Dados divulgados na pesquisa CNJ em Números, de 2025, mostram que o Brasil registra 18,55 novos casos por cem habitantes, enquanto a média europeia é de apenas 4,44. Isso representa quatro vezes o volume de novos processos. A diferença se acentua nos casos pendentes: 37,93 por cem habitantes no Brasil contra 2,58 na Europa, uma disparidade de 14,7 vezes.

Esse alto volume é reflexo de "n" fatores como: amplo acesso à Justiça, judicialização de políticas públicas, falta de efetividade das agências reguladoras e cultura de litígio. Ainda assim, o Judiciário brasileiro consegue manter um Índice de Atendimento à Demanda de 113,6%, superando a média europeia de 100,9%. Isso significa que, mesmo com mais processos entrando, o sistema consegue julgar mais do que recebe anualmente.

Outro dado impressionante é a relação entre magistrados e população. O Brasil tem nove magistrados por 100 mil habitantes, enquanto a Europa dispõe de 18, o dobro. Apesar disso, cada magistrado brasileiro lida com 2.103 novos casos por ano, contra 249 na Europa. Em termos de processos baixados, são 2.389 por magistrado no Brasil, frente a 252 na Europa. Esses números revelam uma produtividade individual até nove vezes maior por magistrado brasileiro, evidenciando um esforço contínuo para atender à demanda, mesmo com recursos humanos limitados. O tempo de giro do acervo no Brasil é de um ano e 10 meses, enquanto na Europa é de sete meses.

Os dados revelam que a Justiça brasileira, mesmo operando sob pressão constante, em dados sociais de extrema desigualdade, é extraordinariamente mais produtiva e qualificada, graças ao empenho e comprometimento de seus magistrados e servidores. _

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