
De esquerda ou de direita
Dada a importância de nos posicionarmos politicamente, elenquei objetos e suas características políticas, para ajudar meus leitores nesse momento de polarização.
Palito de dente. Tradicional, sóbrio, pode não ser elegante, mas dá conta do recado, é de direita.
Camisinha. É de esquerda. Não deixa Deus agir e produzir filhos.
Balança de banheiro. Sem empatia, crueldade neoliberal. Chinelo de borracha. Todos usam, o que faz confundir as classes sociais: populismo de esquerda.
Abacate. Ora está na sua versão creme e é doce, ora vem salgado como no guacamole. Ambiguidade suspeita, esquerda woke.
Paralelepípedo. Esconde-se sob o manto de ser tradicional e pacato. Mas, quando tem confusão, é atirado por agitadores, bolcheviques e congêneres. É de esquerda. Cactos. Apoia armas para autodefesa, é de direita. Pão de queijo. Engana a fome, agrada a todos, vai com qualquer um, oportunista de centro.
Saia plissada. Boas lembranças dela como uniforme do colégio. Quem diria, hoje é usada para cosplay de mangá, foi para a esquerda. Pablo Picasso. Foi para Cuba onde desenvolveu a pintura cubista, esquerda caviar.
Air fryer. Fritando sem óleo, desconstruiu séculos de tradição culinária. Ecochata de esquerda. Tupperware reciclado de pote de sorvete. Apesar da nota zero em elegância, permite às mães de família contrabandear comida feita em casa (feijão congelado) para jovens longe do lar. É de centro-direita.
Saco de supermercado. Já é proibido em alguns lugares. Portanto, é de esquerda. Pizza com brócolis. Revela esquerda fajuta, fazem a família incluir esse sabor e depois comem a de calabresa.
Porta com sensor. Abre para qualquer um, sem critério. Centro-esquerda inclusiva.
Polenta. Neste quesito, minha equipe e eu desistimos, aceitamos os limites dos campos semânticos. A polenta mole com molho de domingo está numa esfera política muito distinta da polenta com queijo na chapa, que por sua vez não se pode confundir com a polenta frita.
O que minha equipe já sabe é que quem enxerga direita e esquerda em cada suspiro, quem precisa classificar tudo, quem não consegue raciocinar sem essa chave semiótica alucinada, não é de esquerda nem de direita, é louco. _
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