segunda-feira, 27 de outubro de 2025


27 de Outubro de 2025
CARPINEJAR

Nem é preciso ser beatlemaníaco. Os contemporâneos de idade e de geração ainda se lembram de onde estavam no dia 8 de dezembro de 1980, quando John Lennon foi baleado e mortalmente ferido no arco do The Dakota, sua residência na cidade de Nova York. Era o fim de qualquer esperança de retorno dos Beatles, o fim do sonho.

Suas últimas palavras atônitas e incrédulas, dirigidas ao porteiro Jay Hastings, resumiram-se a "Levei um tiro!".

O assassino do lendário músico inglês, Mark David Chapman, recebeu prisão perpétua e segue preso até hoje, mais de quatro décadas depois do atentado que chocou o mundo. Aos 70 anos, permanece no Green Haven Correctional Facility, presídio de segurança máxima.

Jamais houve relaxamento da pena. Ele teve seu pedido de liberdade condicional negado pela 14ª vez, em agosto deste ano. Chapman viajou do Havaí a Nova York para cometer o assassinato. Horas antes, chegou a dissimular a intenção e pegar um autógrafo do recém-lançado álbum Double Fantasy.

Em audiências anteriores, o detento reconheceu a gravidade de seu crime e o vazio que infundiu a toda uma legião de fãs. Em 2022, declarou que estava plenamente consciente de seus atos: "Eu sabia o que estava fazendo, e sabia que era errado, sabia que era perverso, mas eu queria tanto conquistar fama que estava disposto a dar tudo".

A intransigência deveria servir de exemplo para o Brasil, que, pelo contrário, mostra-se uma fábrica de impunidade e de sentenças nunca cumpridas à risca. Os quatro condenados pelo incêndio da Boate Kiss, que aconteceu em 2013, em Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul, deixando 242 mortos e mais de 600 feridos, já progrediram para o regime semiaberto. Um deles, inclusive, obteve saída temporária para trabalho externo.

No julgamento de 26 de agosto deste ano, a 1ª Câmara Especial Criminal do Tribunal de Justiça do RS decidiu, por unanimidade, reduzir as penas dos réus para 12 anos (os dois sócios) e 11 anos (os dois integrantes da banda).

Quem não volta para a rua são as centenas de vítimas indefesas e encurraladas no momento de diversão, que morreram por asfixia após inalar a fumaça tóxica gerada quando as faíscas de um artefato pirotécnico utilizado pela banda, material impróprio para o local, atingiram a espuma que revestia o teto do palco.

Aquele banheiro de corpos empilhados de estudantes, que procuravam a saída e acabaram enganados pela ausência de sinalização, é um postal macabro da nossa leniência.

Assim como, para a nossa estupefação, na terça-feira (21), a 36ª Vara Criminal do Rio de Janeiro absolveu as sete pessoas acusadas pelo incêndio culposo ocorrido no Ninho do Urubu (Centro de Treinamento Presidente George Helal), que pertence ao Flamengo. A tragédia, em fevereiro de 2019, provocou a morte de dez adolescentes e lesões corporais em outros três. Todos eram da base da equipe carioca e se encontravam sob seus cuidados.

Uma tragédia anunciada não colocou ninguém atrás das grades, mesmo com o CT funcionando sem alvará; mesmo com o dormitório interditado e autuado várias vezes; mesmo com as irregularidades elétricas e a falta de manutenção preventiva dos aparelhos de ar-condicionado, que deram início ao curto-circuito; mesmo com os contêineres usados como alojamentos apresentando janelas gradeadas, portas de correr emperradas e um único acesso distante, o que dificultou a evasão; mesmo com as chapas de aço de alta inflamabilidade sem tratamento antichamas, causando o alastramento imediato do fogo - segundo investigações e laudos periciais.

Esse é o país do aqui se faz, aqui se apaga. 

CARPINEJAR

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