quinta-feira, 23 de outubro de 2025


23 de Outubro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Contrariando Trump, China substitui Brasil na Argentina

Depois da oficialização de um swap cambial (troca de moedas) de US$ 20 bilhões dos Estados Unidos, a Argentina informou que, em setembro, a China se tornou seu maior parceiro comercial. No mês passado, as exportações argentinas para a China cresceram 201,7%, para US$ 1,29 bilhão, enquanto as vendas ao Brasil caíram 11,1%, para US$ 1,17 bilhão.

Consideradas as importações, o comércio total entre China e Argentina movimentou US$ 3,1 bilhões, acima dos US$ 2,89 bilhões das trocas com o Brasil. É a primeira vez desde novembro de 2022 que os chineses dominam o comércio com o país do tango.

Um dos motivos foi a atual crise cambial do país vizinho, que obrigou o governo Javier Milei a zerar a cobrança de impostos sobre exportações agrícolas - as chamadas retenciones. Para aproveitar o período de isenção, os produtores aceleraram as vendas de soja para a China.

Uma das justificativas dadas por Donald Trump para dar ajuda excepcional à Argentina era a perspectiva de que o país latino-americano se afastasse do gigante asiático.

O socorro aplicado agora só tem precedente em 1995, no governo Bill Clinton, e foi com o México, que tem economia conectada à americana. Curiosidade: o valor nominal é o mesmo, US$ 20 bilhões. Atualizado pela inflação americana, o pacote mexicano valeria hoje cerca de US$ 42 bilhões.

Efeito contrário

Depois de Trump ter anunciado até compra de carne da Argentina para ajudar Milei, a secretária da Agricultura dos EUA, Brooke Rollins, esclareceu que a aquisição será "limitada". Conforme Rollins, qualquer abertura de mercado precisa passar pela garantia de segurança sanitária, citando risco de febre aftosa. Claro que a declaração provocou reação indignada de pecuaristas argentinos.

Ontem, a apenas três dias da eleição parlamentar que pode definir o futuro do governo Milei, o dólar oficial está cotado a 1.515 pesos. O fato de estar muito perto do teto da banda cambial acordada com o FMI tem exigido intervenções diárias do Banco Central (BC). _

Gaúcha por trás de conceito sustentável em Nova York

Um novo conceito que propõe o crescimento de cidades em sintonia com sistemas naturais da Terra teve participação gaúcha - ao menos, na apresentação. No Mercer Labs, museu de arte e tecnologia de Nova York, a empresa Neorama, de Porto Alegre, fez narrativa audiovisual com jornada sensorial para ajudar a passar ao público o conceito Bioplanning.

A ideia é do designer Dror Benshetrit, do Supernature Labs, e busca promover futuro urbano mais consciente, equilibrado e conectado à natureza.

Traduzimos conceito profundamente técnico e inovador em jornada emocional capaz de engajar líderes, pensadores e o público global - diz o sócio da Neorama, Cássio Carvalho.

A empresa já fez trabalhos para companhias do mercado imobiliário como Melnick e o Kempinski Laje de Pedra, com projeto entre os ganhadores do Top de Marketing da ADVB/RS 2025. _

Entrevista - Pedro Bartelle - CEO da Vulcabras, dona de Olympikus, Under Armour e Mizuno

"Ásia é mais competitiva, não mais produtiva nem inteligente"

Bartelle receberá hoje o prêmio Equilibrista, do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Estado. Estima aporte de R$ 100 milhões na unidade gaúcha da Vulcabras nos últimos cinco anos.

Como a Vulcabras é afetada pelo tarifaço?

A exportação para o mercado americano é quase zero. Somos competitivos na América Latina, começamos um trabalho agora na Europa, mais de posicionamento. A grande preocupação do setor é entender para onde irá a produção asiática se não entrar nos Estados Unidos.

A competição asiática segue um desafio?

Calçado elaborado, como tênis, tem custo muito alto de mão de obra. Os asiáticos chegam a pagar um terço ou um quarto do nosso custo, fora outros subsídios. O Brasil tem tarifa de importação de 35% para calçados. Temos defendido medidas que tragam mais competitividade. Por falta de competitividade, e não de produtividade, o Brasil está voltado ao mercado interno. Defendemos que o governo dê condições igualitárias.

A Vulcabras faz a gestão de uma marca americana, a Under Armour. Houve mudança com o tarifaço?

Não. A preocupação da Under Armour internacional é de abastecimento, porque compra produtos da Ásia, que está com tarifas também bastante altas. Nosso centro de desenvolvimento de tecnologia em Parobé, que é o maior da América Latina para calçados, é hub também para a Under Armour. Temos parceria no desenvolvimento de alguns produtos. Não estamos exportando só produtos, mas também a inteligência do desenvolvimento que existe no Vale dos Sinos e no do Paranhana.

A Vulcabras cresce há 20 trimestres seguidos. Qual a fórmula?

A cada trimestre, o percentual de crescimento é maior. Passamos por uma reestruturação muito dura, pouco mais de 10 anos atrás, o que nos trouxe uma casca de tartaruga bem forte. Aprendemos a ser eficientes, austeros nos custos e tivemos de inventar processo para competir com as marcas internacionais. Dominamos todas as etapas e somos completamente verticalizados. A Vulcabras cria produtos, desenvolve materiais, produz e entrega com rapidez. Cerca de 92% dos nossos insumos são brasileiros.

Qual o efeito da febre das corridas de rua na empresa?

A Olympikus faz 50 anos neste ano. Há seis, identificamos que a corrida ia crescer muito. As pessoas estão dando mais importância a seu preparo físico. Desafiamos uma marca brasileira a competir não só no esporte, mas na alta performance. Então, criamos a linha Corre. Estamos no sexto ano, e é o tênis mais usado por corredores brasileiros.

Hoje, a linha Corre representa quanto do faturamento?

Olympikus é o nosso carro-chefe, representa pouco mais da metade. E o faturamento da linha Corre já ultrapassa 20% do faturamento da Olympikus. Pretendemos trazer produtos mais tecnológicos. A produção asiática é mais competitiva nos custos, mas não é mais produtiva, não é mais inteligente, não tem melhores recursos e nem melhor mão de obra do que temos no Brasil. _

GPS DA ECONOMIA

Nenhum comentário: