quinta-feira, 30 de outubro de 2025



30 de Outubro de 2025
OPINIÃO RBS

Caso do Rio deve ser um ponto de inflexão

Não há como deixar de ficar espantado com as cenas de guerra na cidade do Rio de Janeiro, na terça-feira, durante a operação das forças de segurança fluminenses que se tornou a mais letal da história do país. A ação com 2,5 mil agentes policiais militares e civis, para cumprir cem mandados de prisão e 150 de busca e apreensão contra o Comando Vermelho, terminou com ao menos 121 mortos. Quatro policiais tombaram na reação dos traficantes dos complexos da Penha e do Alemão.

Ofensivas pela força ocorrem há décadas nas favelas do Rio e não debelam a criminalidade e o tráfico. Facções como o Comando Vermelho, mesmo com a prisão de lideranças, mostram-se capazes de resistir às incursões armadas e de se reorganizar. Mais do que sobreviver, expandem a atuação para outros territórios, com conexões inclusive no Exterior, e se fortalecem com novos negócios ilícitos e infiltração em instituições. Nos morros, os soldados do tráfico mortos são rapidamente substituídos por outros jovens que vivem em meio à pobreza, à desesperança e à ausência do Estado. Operações como a de terça matam e prendem criminosos, mas também, como efeito colateral, vitimam inocentes e fazem com que policiais não voltem para as suas famílias.

No Rio, o mal não será arrancado pela raiz sem um plano estruturado e de longo prazo que aborde as mais diferentes faces do problema. Não basta o Estado ocupar ocasionalmente uma comunidade com polícia e, pouco depois, abandoná-la. São necessárias políticas permanentes que ofereçam cidadania, serviços sociais, oportunidades de renda e segurança. 

O Rio chegou perto com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), criadas em 2008. Além do policiamento comunitário, prometiam atendimento nas demais áreas de atuação do Estado. Diminuíram a violência onde foram instaladas, mas no início da década seguinte colapsaram com denúncias de corrupção, abusos de poder e conflitos entre policiais e traficantes. Os velhos vícios que tornaram a segurança pública do Rio falida falaram mais alto. Ainda assim, são um modelo que pode ser revisitado, com olhar especial para prevenir os aspectos que a levaram a fracassar.

O caso do Rio também volta a escancarar que se tornou inadiável uma participação maior da União em apoio aos Estados. A PEC da Segurança, em tramitação no Congresso, merece debate mais sério. A proposta prevê maior integração entre órgãos federais e estaduais e uma coordenação nacional no combate às organizações criminosas. Se existem impasses sobre pontos do texto, que sejam discutidos e aperfeiçoados. 

O certo é que, com o fortalecimento e a sofisticação das grandes facções, que se imiscuem nas instituições e avançam sobre a economia formal, o enfrentamento efetivo depende de mais uso da inteligência policial, da colaboração de órgãos que rastreiam movimentações financeiras e da associação federativa. Politizar o tema, minando a cooperação, apenas fará com que os conglomerados do crime continuem poderosamente armados e a se expandir, enquanto a população permanecerá sob o fogo cruzado. O episódio estarrecedor desta terça-feira, portanto, deve servir como um ponto de inflexão. Ontem, Estado e governo federal anunciaram um Escritório Emergencial de Enfrentamento ao Crime Organizado. A conferir os desdobramentos práticos. _

OPINIÃO RBS

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