
16 de Outubro de 2025
OPINIÃO RBS
Atenção à crise da lavoura de arroz
Convém dar atenção à crise dos preços do arroz. A situação afeta de modo particular o Estado, responsável por 70% da produção nacional do cereal, base da alimentação dos brasileiros. A cotação despencou nos últimos 12 meses, alcançando patamares que não eram vistos havia quase uma década e meia. Chega a hora de lançar mão de medidas oficiais, do Estado e do governo federal, para dar perspectivas melhores aos produtores.
Conforme a média do indicador Cepea/Irga, considerado referência, a saca de 50 quilos do arroz em casca está na casa dos R$ 58. Em outubro de 2024 chegou a encostar nos R$ 120, o dobro. De acordo com o Cepea, Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, ligado à Universidade de São Paulo (USP), é o menor patamar real desde setembro de 2011. Além do preço baixo em si, a queda brusca potencializa as agruras do setor, uma vez que obviamente os custos seguem em níveis altos e a conta não fecha. A remuneração fica longe de cobrir o desembolso para formar as lavouras. Os resultados naturais são o prejuízo para quem planta e o desestímulo à produção. Não à toa o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) prevê uma redução de 5% na área cultivada no Estado na safra 2025/2026.
Um encontro organizado na Assembleia Legislativa com entidades do setor, na segunda-feira, tratou de medidas que poderiam ao menos aliviar as dificuldades mais imediatas. Uma delas é a isenção da Taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura (CDO) para operações de exportação, o que poderia ajudar a escoar o produto para o mercado externo. A cobrança - de R$ 0,89 por saca - financia medidas de defesa e auxílio ao setor. Outra seria uma redução do ICMS, com a equiparação ao Paraná, para incentivar a industrialização no Rio Grande do Sul. São demandas direcionadas ao governo gaúcho. Espera-se sensibilidade para negociar alternativas excepcionais diante de um quadro de anormalidade.
Os problemas de competitividade também fazem com que o arroz gaúcho tenha dificuldade de fazer frente ao produto de outros países do Mercosul. É uma questão recorrente, mas mais sentida em momentos de depressão do mercado. Na tentativa de sustentar os preços, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) liberou R$ 300 milhões para contratos de opção, mas o mecanismo se mostra insuficiente. Tornam-se necessários, também, esforços adicionais para abrir novos mercados externos e fomentar o uso para outros fins, como a produção de etanol.
É essencial encontrar meios para se chegar a um ponto de equilíbrio que deixe o arroz acessível aos brasileiros, mas também remunere os produtores. A agricultura gaúcha já atravessa dificuldades com o alto endividamento devido às perdas sequenciais de safras de soja pelas estiagens dos últimos anos. A omissão fará a crise no campo se agravar. Se hoje o consumidor encontra preços baixos, amanhã pode pagar bem mais caro caso a produção gaúcha se inviabilize. Ainda que o consumo per capita do arroz venha caindo nas últimas décadas, trata-se de um alimento de alto valor nutricional e versátil que, até pelas questões de saúde, merece voltar a ganhar espaço na mesa dos brasileiros.
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