
21 de Outubro de 2025
OPINIÃO RBS
OPINIÃO RBS
Descalabro nos Correios
Por décadas a fio a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, popularmente conhecida como os Correios, aparecia em inúmeras pesquisas como uma das instituições de maior confiabilidade do país. A presença em todo o território nacional e a eficiência dos serviços tornaram a companhia pública federal um patrimônio não apenas material, mas afetivo. Os tempos áureos ficaram para trás e os Correios, vitimados por gestões temerárias, pela incapacidade de se adequar às transformações do setor e pelo uso da empresa no toma lá dá cá político, estão hoje mergulhados em uma crise financeira sem precedentes. Apenas um plano robusto e executado à risca pode evitar a necessidade de um socorro pelo Tesouro Nacional - ou seja, pelos contribuintes -, impactando negativamente o quadro fiscal do país.
Os Correios acumulam prejuízos desde 2022, último ano do governo Jair Bolsonaro, após quatro exercícios seguidos no azul, que interromperam outra sequência negativa. Os resultados pioraram sob Lula 3. No primeiro trimestre deste ano, o déficit alcançou R$ 4,36 bilhões. Na busca desesperada por fôlego, o novo presidente da empresa, Emmanoel Schmidt Rondon, anunciou na semana passada a procura por um empréstimo de R$ 20 bilhões. A operação, com garantia do Tesouro, tentará devolver liquidez à companhia, mudar o perfil da dívida, quitar pendências e bancar um novo programa de demissões voluntárias (PDV).
Não haverá saída para os Correios sem medidas consistentes de redução de custos e de melhoria operacional. Resta esperar para saber se o governo Lula, refratário a qualquer menção a racionalização de gastos e conceitos empresariais que busquem eficiência, permitirá de fato a implementação de um programa ousado de enxugamento e de elevação da produtividade. Melhor seria também a designação de profissionais testados para postos-chave, abrindo mão das indicações políticas que, não raro, acabaram em escândalos, como foi o caso da origem do Mensalão.
Os Correios sofrem com a combinação insustentável de queda de receita e aumento de custos. Crescem os gastos administrativos, com pessoal, financeiros e com precatórios. Ainda que a nova gestão busque a diversificação de fontes de faturamento, com novos negócios e a venda de imóveis, pouco adiantará se a sangria das despesas não for estancada. Surpreende a passividade da empresa ao não se adaptar a mudanças de normas que afetaram o negócio. Entre os fatores que reduziram receitas estão as decisões do governo que deram fim à obrigatoriedade de distribuição pelos Correios de encomendas internacionais, abrindo o mercado para concorrentes, e a chamada "taxa das blusinhas", que tributou em 20% compras de até US$ 50 em lojas virtuais do Exterior.
A conferir, portanto, se as medidas anunciadas serão suficientes e rigorosamente executadas para ser possível alcançar o equilíbrio financeiro estrutural a partir de 2027, como prometido, ou se o pacote de iniciativas é um mero paliativo a retardar um socorro do Tesouro. O descalabro atual, com o acúmulo de passivos, restringe até a possibilidade de uma saída via privatização, pelo baixo valor de mercado dos Correios hoje.
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