
CRISE DIPLOMÁTICA
Lula e Trump prometem acordo em pouco tempo sobre tarifas
Crise diplomática
Reunião entre os dois presidentes na Malásia teve tom cordial, mas terminou sem anúncios concretos. Brasil pediu que sobretaxa seja suspensa durante as negociações, que devem seguir nas próximas semanas. Setores atingidos celebraram reaproximação, porém cobraram avanços
O aguardado encontro entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, Donald Trump, terminou sem anúncios, mas com sinalizações de que um acordo sobre o tarifaço aplicado a parte das exportações brasileiras pode sair nas próximas semanas.
Lula e Trump se reuniram por cerca de 45 minutos em Kuala Lumpur, na Malásia, em paralelo à cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). Questionado por jornalistas antes da conversa se poderia rever a sobretaxa imediatamente, Trump afirmou, em tom cordial, que estava aberto a "avançar rápido" na discussão.
Temos muito respeito pelo seu presidente e pelo Brasil. Provavelmente faremos alguns acordos. Eles podem oferecer muita coisa, e nós podemos oferecer muita coisa - disse, sem detalhar quais seriam as condições.
Já Lula afirmou que o Brasil tem "todo interesse em ter uma relação extraordinária com os EUA" e que "não há motivo para desavença" entre os países. Após o encerramento, ambos classificaram a reunião como positiva em postagens nas redes sociais.
"Descontraída e alegre"
Mais tarde, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, confirmou que o Brasil pediu que o tarifaço seja suspenso enquanto um acordo comercial for negociado. Uma nova reunião ocorreria na manhã de hoje (no horário local), com os secretários de Estado, Marco Rubio, do Tesouro, Scott Bessent, e o enviado comercial, Jamieson Greer.
O governo brasileiro não esperava uma decisão imediata por parte dos EUA. Na coletiva, Vieira classificou a reunião de Lula e Trump como "um primeiro passo".
- Nós esperamos em pouco tempo agora, em algumas semanas, concluir uma negociação bilateral que trate de cada um dos setores da atual tributação americana ao Brasil - disse.
De acordo com o secretário- executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Elias Rosa, Lula afirmou, durante a reunião, que não há motivação econômica para sobretaxar as vendas brasileiras, uma vez que a balança comercial entre Brasil e EUA é favorável aos americanos.
Vieira disse ainda que Trump e Lula concordaram com a necessidade de visitas recíprocas:
- O presidente Trump quer ir ao Brasil e o presidente Lula aceitou também, disse que irá com prazer aos EUA no futuro.
Conforme o chanceler, a conversa foi "descontraída" e "até alegre". Além do impasse comercial, temas como a crise na Venezuela também vieram à tona (leia ao lado).
"Otimismo moderado"
A reaproximação entre os países foi recebida com otimismo por entidades industriais e do agronegócio.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, classificou a reunião como um "avanço concreto".
Na mesma linha, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) disse acreditar que os dois governos chegarão a um "entendimento no curto prazo".
Entre os setores mais atingidos pela sobretaxa, o Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé) disse "aguardar por resultados concretos", enquanto a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) alegou que está com um "otimismo comedido". Já a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) disse que o encontro "demonstra a disposição de ambos os governos em avançar nas discussões". _
"Nós conseguimos fazer uma reunião que parecia impossível."
Lula Presidente do Brasil
"Acredito que seremos capazes de fechar acordos muito bons."
Donald Trump - Presidente dos EUA
O que mais foi tratado
VENEZUELA
Lula se colocou à disposição para atuar como interlocutor entre os EUA e a Venezuela, em meio à escalada da tensão entre os países. O brasileiro recordou que atuou em situação de crise similar durante o governo de Hugo Chávez, e citou o fato de a região ser uma zona de paz, sem conflitos bélicos.
BOLSONARO
Antes da reunião, ao ser questionado sobre a situação do ex-presidente, que foi um dos motivos alegados para o tarifaço, Trump afirmou que "sempre gostou dele" e que ficou "muito mal" com a condenação por golpe de Estado. Em privado, foi Lula quem tocou no assunto, afirmando que há provas robustas e afirmando que são "injustas" as sanções aplicadas contra ministros do STF.
prisão DE LULA
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Trump também demonstrou interesse pela trajetória política de Lula e quis saber a respeito da prisão dele, entre 2018 e 2019. O americano teria ficado impressionado ao ouvir que Lula permaneceu 580 dias em uma cela e afirmado que o brasileiro, assim como ele, teria sido vítima de perseguição política e judicial.
Navio de guerra atraca a poucos quilômetros da Venezuela
Um navio de guerra lançador de mísseis dos Estados Unidos chegou ontem a Trinidad e Tobago, um pequeno arquipélago situado em frente à Venezuela.
O USS Gravely permanecerá atracado na capital Port of Spain até quinta-feira, período durante o qual uma unidade de fuzileiros navais americanos realizará treinamento conjunto com as forças de defesa locais. O deslocamento do destróier para a região ocorre no momento em que o governo Trump intensifica a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro, sob alegação de que está combatendo o narcotráfico A ponta ocidental de Trinidad e Tobago está a cerca de 10 quilômetros da Venezuela.
Nas últimas semanas, 10 embarcações venezuelanas que estariam transportando drogas foram bombardeadas pelos EUA. Na sexta-feira, o governo americano ordenou o envio do USS Gerald Ford, o maior porta-aviões do mundo, para o mar do Caribe, o que aumentou as especulações sobre um plano para destituir Maduro.
A primeira-ministra de Trinidad e Tobago, Kamla Persad-Bissessar, é uma fervorosa apoiadora de Trump e crítica da Venezuela. _
Trégua com China
Também ontem, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, anunciou um acordo para que a China adie as restrições à exportação de terras raras e retome a compra de soja americana, para evitar a escalada da guerra comercial.
Trump ameaçou impor tarifa adicional de 100% a partir de novembro caso Pequim limitasse a exportação de terras raras. O republicano vai se encontrar com o presidente da China, Xi Jinping, na quinta-feira, na Coreia do Sul.
- Temos uma estrutura muito bem-sucedida para os líderes discutirem na quinta-feira - disse Bessent.
O principal negociador comercial, Li Chenggang, confirmou que os países chegaram a um "consenso preliminar".
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