quarta-feira, 15 de outubro de 2025


15 de Outubro de 2025
OPINIÃO RBS

Do cessar-fogo para a paz

Foram tocantes as cenas dos reencontros entre os sequestrados pelo Hamas e suas famílias em Israel, na segunda-feira, após uma separação angustiante de mais de dois anos. Na Faixa de Gaza, não foi menor o alívio dos palestinos - usados como trincheira humana pelo grupo terrorista - com o fim dos combates e a entrada de ajuda humanitária. A região e o mundo iniciaram a semana com o sopro da esperança de uma paz duradoura no Oriente Médio após o cessar-fogo entre o Hamas e Israel, fruto de acordo liderado pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Apenas esse acontecimento é motivo de exaltação.

A interrupção do conflito iniciado com ataque bárbaro do Hamas ao território israelense em 7 de outubro de 2023, porém, ainda não é certeza de uma aquietação permanente em uma área historicamente marcada por desconfianças mútuas, atos terroristas, guerras e violência. Ainda que se celebre o silenciamento momentâneo das armas, o plano de 20 tópicos de Trump voltado à futura estabilização do Oriente Médio é um caminho repleto de dúvidas sobre sua viabilidade e o real comprometimento das partes em cumpri-lo até o fim. Basta lembrar que o acordo que selou o cessar-fogo, assinado na segunda-feira, no Egito, com a presença de vários líderes mundiais, teve as ausências do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e de emissários do Hamas.

Os pontos acordados, aliás, não demoraram para deixar de ser honrados, o que joga mais dúvidas sobre o fim definitivo da guerra, a construção das condições para uma convivência pacífica e colaborativa entre israelenses e palestinos e para a normalização das relações de Israel com os vizinhos árabes. Um dos compromissos do Hamas, após libertar os reféns vivos, era entregar os restos mortais dos sequestrados que perderam a vida em cativeiro. Seriam de 28 pessoas. Embora já se soubesse que parte teria sido perdida sob os escombros, na segunda-feira somente quatro corpos foram devolvidos, o que levou Israel a decidir limitar a entrada de ajuda humanitária pela passagem de Rafah, na fronteira com o Egito. Ontem, outros quatro foram entregues.

Restam outras incógnitas relevantes. Uma delas é até que ponto o Hamas aceitará se desarmar e não fazer parte da futura administração de Gaza. É preciso ainda conhecer os detalhes de como será a gestão temporária tecnocrática prometida para o território, com palestinos e lideranças ocidentais. Aguardam-se os pormenores da proposta de reconstrução de Gaza e sua viabilização econômica. Sem falar na hipótese de um futuro Estado palestino.

Trump, que sonha com o Nobel da Paz, tem o mérito de ter forçado ambos os lados a um cessar-fogo, auxiliado por outros países árabes. Tem o dever de continuar a pressionar para que as demais fases de seu plano, tão ambicioso quanto vago, sejam implementadas. Mesmo que hoje ainda pareça quimérica, a paz sustentável precisa continuar a ser perseguida. Colabora para essa possibilidade o enfraquecimento não só do Hamas, mas de outras organizações armadas hostis a Israel, como o Hezbollah, sediado no Líbano, os houthis, do Iêmen, e do próprio Irã. 

Mas, muito além de vitórias militares sobre milícias, o equilíbrio na região depende da construção da confiança entre seus governos e líderes e da sedimentação do respeito recíproco entre os povos. Seria uma oportunidade também para reverter o recente surto antissemita, fruto de uma compreensão equivocada que igualou o terrorismo à reação de Israel e que encontrou eco, inclusive, no governo brasileiro. 

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