terça-feira, 7 de outubro de 2025


07 de Outubro de 2025
NÍLSON SOUZA

A atriz perfeita

O mundo do faz de conta está agitado. Enquanto Odete Roitman morre pela segunda vez diante dos telespectadores brasileiros, coroando outra atuação talentosa de Débora Bloch, atores e cineastas de Hollywood querem o fígado de uma atriz que virou vilã antes mesmo de começar a atuar.

A moça chama-se Tilly Norwood e é simplesmente perfeita, tanto na beleza física quanto na sua capacidade de interpretar qualquer papel com desenvoltura e competência. Além disso, bebeu o elixir da eterna juventude: não vai envelhecer nunca. Só que não é uma pessoa de verdade, mas, sim, uma criação tecnológica. É a filha artista da deusa do momento, a enigmática e temida inteligência artificial.

A atriz virtual criada pela empresa Xicoia, que se apresenta como primeiro estúdio de talentos com inteligência artificial do mundo, está provocando uma onda de protestos por parte de seus colegas de carne e osso. Ela foi apresentada oficialmente no Festival de Cinema de Zurique, no mês passado, por sua criadora, a holandesa Eline van der Velden.

Está causando furor e fúria. No trailer apresentado ao público, convence e encanta, especialmente quando sorri e deixa transparecer as covinhas do rosto. É cheia de charme. Mas está provocando indignação na indústria cinematográfica, principalmente por parte de atores e atrizes que se sentem ameaçados pela concorrência desigual. Ela não cansa, não reclama de nada e interpreta tudo certinho. Os atores reais se queixam de que ela foi "treinada" com base no trabalho de outros profissionais, sem que sequer tenham sido consultados.

É verdade, mas impedi-la de atuar não é o caminho. A História já comprovou que o ludismo, o movimento operário de destruição de máquinas na Revolução Industrial, não freia avanços tecnológicos. A inteligência artificial não vai retroceder. O que cabe é regulamentá-la, para que os humanos possam administrá-la em benefício de todos, evitando-se, por exemplo, que simulações virtuais da Gisele Bündchen e do Drauzio Varella sejam utilizadas por espertalhões para aplicar golpes e vender inutilidades, como acontece no Brasil.

Odete Roitman ou Tilly Norwood? O melhor é deixar o público escolher. _

NÍLSON SOUZA

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