
À espera do alívio no juro
Com o petróleo e o dólar em queda, a Petrobras anunciou na segunda-feira a redução de 4,9% no preço da gasolina comercializada às distribuidoras. O valor do combustível nas refinarias terá uma redução de R$ 0,14 por litro, chegando a R$ 2,71. Conforme a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), isso permite que a gasolina fique até R$ 0,09 mais barata nas bombas. O movimento vem em boa hora.
O combustível mais em conta melhora as perspectivas para a inflação e ajuda a consolidar a percepção de que até o início de 2026 o Banco Central (BC) possa encontrar espaço para iniciar um ciclo responsável e fundamentado de corte da taxa Selic. O torniquete monetário, embora justificável, impõe sacrifícios às famílias e às empresas, com o aumento do endividamento e da inadimplência.
A redução dos preços pela Petrobras deflagrou revisões das previsões para o IPCA ao fim do ano. Já há instituições financeiras calculando que a inflação oficial encerra dezembro em um patamar anualizado de 4,5% ou um pouco aquém. O centro da meta brasileira é de 3%, mas há um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. Assim, o teto poderia ser respeitado.
A gasolina é um dos componentes de maior impacto no IPCA. Tem um peso de 5% no índice. Há outras boas notícias e perspectivas, como a deflação dos alimentos por quatro meses consecutivos e a tendência de que permaneçam com preços comportados no restante de 2025, além da esperança de algum alívio na conta de luz ainda neste ano, com a saída da bandeira vermelha. Assim, são fortalecidas as apostas de que um corte no juro básico da economia se aproxima.
A Selic a 15% ao ano e a inflação em 12 meses em 5,17% fazem o Brasil ter um juro real de quase 10%, um patamar que sufoca os consumidores, encarece a dívida das empresas e inibe os investimentos produtivos que deveriam ajudar o país a ter um crescimento mais sustentável. O indicador de inadimplência da Serasa Experian divulgado na segunda-feira, por exemplo, mostrou que o país chegou a agosto com 8,1 milhões de CNPJs negativados, um recorde.
A dívida média dessas empresas ficou em R$ 24.631,20, alta de 13,6% em um ano. Um levantamento da Assessoria Econômica da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), conhecido também na segunda-feira, indicou que este é o mais dramático momento do crédito rural desde o Plano Real, implementado em 1994. A inadimplência média no país em empréstimos com juros controlados é de 1,86%, mas nas operações com condições de mercado sobe para 9,35%. Isso aponta para a Selic como principal causa do quadro preocupante vivido por uma parcela significativa de agricultores.
Espera-se que notícias, indicadores e expectativas dos agentes econômicos continuem a favorecer o começo da descompressão da Selic. Sempre preocupa a propensão governamental de distribuir bondades com a aproximação do ano eleitoral, elevando gastos. Como os efeitos de uma mudança na política monetária demoram até um ano para chegar na ponta, as consequências da Selic a 15% ainda serão sentidas por um tempo considerável. Quanto mais cedo o ciclo virar, portanto, melhor.
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