quarta-feira, 8 de outubro de 2025


08 de Outubro de 2025
INFORME ESPECIAL -Rodrigo Lopes

Por que Trump não merece ganhar o Nobel da Paz

Donald Trump anda bem ocupado nesta semana - e as relações com o Brasil, ao contrário do que faz parecer por aqui o telefonema a Lula, são talvez a menor das suas preocupações.

Ok, você deve pensar que ele deve estar mais ocupado com a inflação alta, a previsão de baixo crescimento econômico dos EUA em 2025, a paralisação do governo ("shutdown") e o andamento das negociações entre Israel e o Hamas em Sharm el-Sheikh.

Certo que sim. Mas nada tira mais o sono de Trump do que a escolha do Comitê Norueguês do Nobel.

Egocêntrico elevado a enésima potência, o presidente americano conta as horas para o dia 10, data do anúncio do Nobel da Paz. Até lá, observa um a um os laureados em outras categorias serem elevados ao panteão dos imortais da humanidade.

Mas Trump merece o Nobel da Paz? Vejamos suas chances. Muito antes de os terroristas do Hamas atacarem Israel, há exatos dois anos, o presidente americano, então em seu primeiro mandato, buscava a normalização das relações diplomáticas entre Israel e países árabes. Os chamados Acordos de Abraão foram fechados com Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos - a Arábia Saudita, berço do Islã, estava bem próxima, mas o diálogo foi dinamitado pelo massacre de 7 de outubro de 2023.

Há um comparativo histórico: Jimmy Carter recebeu o Nobel em 2002 em parte devido a sua mediação entre Israel e Egito, os Acordos de Camp David, de 1978.

Trump também não iniciou guerras em larga escala - como George W. Bush, por exemplo. Mas pesa contra ele o fato de ter atacado diretamente dois países soberanos: o Iraque, em janeiro de 2020 (para matar o general iraniano Qassem Soleimani), e o Irã, em 2025, para neutralizar instalações nucleares dos aiatolás.

Encerrador de guerras

Trump e seus apoiadores propagam a narrativa de que o presidente americano é um "encerrador" de guerras - seu próprio lema, Maga (Make America Great Again), representa, em tese, um governo menos intervencionista. Mas, nesse caso, o que pesa mais a seu favor é o esforço para um cessar-fogo entre Israel e Hamas (mesmo que com um plano cheio de lacunas) e iniciativas como as conversas com Vladimir Putin e Volodimir Zelensky (em separado). 

Vale lembrar que, no primeiro mandato, Trump abriu um diálogo direto - e inédito - com o ditador norte-coreano Kim Jong-un e anunciou a retirada das tropas americanas do Afeganistão. Ainda que, no primeiro caso, não tenha ocorrido nenhum desarmamento efetivo e, no segundo, a retirada dos militares (caótica, diga-se de passagem) tenha sido comandada por Joe Biden.

Outros aspectos pesam contra Trump: o comitê costuma premiar autores de ações com impacto humanitário e duradouro, além de iniciativas de âmbito multilateral.

O americano, ao contrário, enfraqueceu instituições multilaterais, como a ONU, a OMS e o Acordo de Paris, adotando uma postura nacionalista, o que fere o espírito do prêmio. No âmbito doméstico, seu discurso frequentemente estimula conflitos raciais, ideológicos e partidários. Embora o Nobel possa ser concedido por feitos internacionais, a percepção global é de que ele aumentou tensões internas e externas, algo incompatível com a noção de "pacificador".

Nesse caso, vale lembrar a ordem para deslocamento de tropas federais para Portland (Oregon) - barrada pela Justiça - para sufocar protestos contra sua política migratória. Aliás, a própria agenda antimigração do governo é contrária ao espírito de Alfred Nobel, que definiu que a láurea deve ser entregue "à pessoa que mais ou melhor tiver contribuído para a fraternidade entre as nações, a abolição ou redução dos exércitos permanentes e a promoção de congressos de paz". Defesa da dignidade humana, cooperação internacional e acolhimento solidário são pilares do escolhido. Discriminação, muros, separação forçada ou sofrimento de civis são desqualificadoras. _

A vereadora de Porto Alegre Karen Santos (PSOL) participou de dois encontros internacionais em Caracas, Venezuela, com delegados de 57 países. Foram discutidos temas como colonialismo, neocolonialismo e desigualdades.

Ativistas na Jordânia

Os 13 brasileiros que estavam na Flotilha Global Sumud, detidos por Israel ao tentarem acessar a Faixa de Gaza, foram libertados ontem e seguiram para a Jordânia, de onde devem retornar ao Brasil. Entre eles, havia duas gaúchas: a presidente do PSOL-RS, Gabrielle Tolotti, e Lisiane Proença.

De acordo com nota divulgada na manhã de ontem pelo Itamaraty, após negociações conduzidas pelo governo do Brasil - por meio da Embaixada em Tel Aviv -, os brasileiros foram levados até a fronteira com a Jordânia e então liberados.

Segundo a organização da flotilha, o grupo foi detido em águas internacionais. Os participantes ficaram por cerca de cinco dias na prisão de Ktzi?ot, no deserto de Neguev.

Flotilha

A Flotilha Global Sumud era composta por mais de 40 embarcações e 420 ativistas de diversas nacionalidades. Ainda na segunda-feira, o Ministério das Relações Exteriores de Israel deportou 171 ativistas, incluindo Greta Thunberg, que também fazia parte do grupo. _

Relevância italiana no RS

A Comissão de Educação da Assembleia Legislativa aprovou ontem, por unanimidade, o projeto de lei que reconhece a relevância cultural dos 150 anos da imigração italiana.

De autoria do deputado Guilherme Pasin (PP), a proposta segue para sanção do governador Eduardo Leite.

A proposição visa celebrar os 150 anos da chegada dos imigrantes italianos ao Rio Grande do Sul, no final do século 19. O processo migratório histórico teve papel fundamental na formação cultural, social e econômica do Estado.

Na justificativa, o deputado ressaltou a importância do reconhecimento para fortificar os laços de cooperação entre o Rio Grande do Sul e a República Italiana, promovendo intercâmbio cultural, social e educacional entre gaúchos e italianos. _

Gaúchos mortos na Ucrânia

A família de Tailon Ruppenthal, de 41 anos, natural de Três Coroas, no Vale do Paranhana, confirmou na segunda-feira a morte do gaúcho durante os combates entre Rússia e Ucrânia.

Ruppenthal engrossa a lista de pelo menos 16 brasileiros mortos ou desaparecidos no conflito, iniciado em fevereiro de 2022. O levantamento feito pela coluna inclui pelo menos três gaúchos.

O primeiro voluntário oriundo do RS a ser morto na guerra foi André Luis Hack Bahi, em junho de 2022. Natural de Porto Alegre, ele havia se juntado às tropas ucranianas em fevereiro daquele ano. Criado em Eldorado do Sul, André formou-se em Enfermagem por uma universidade no Ceará, onde morou, e serviu ao Exército Brasileiro. Foi em Fortaleza que ganhou experiência em zonas de conflito, atuando na escolta armada de carros-fortes.

O segundo voluntário gaúcho morto em combate foi Douglas Rodrigues Búrigo, em julho de 2022. Proprietário de uma borracharia em São José dos Ausentes, nos Campos de Cima da Serra, ele tinha o objetivo inicial de prestar ajuda humanitária na Ucrânia, mas acabou integrando a linha de frente na região de Kharkiv, onde foi vítima de um bombardeio. Douglas serviu ao Exército Brasileiro em Uruguaiana.

Tailon Ruppenthal ingressou nas forças ucranianas em julho para lutar contra a Rússia. Ex-soldado do Exército, atuou no início dos anos 2000 na missão de paz das Nações Unidas no Haiti. Sua experiência resultou no livro Um Soldado Brasileiro no Haiti (Editora Globo). _

INFORME ESPECIAL

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