
CEO da Ecovix, empresa que administra o Estaleiro Rio Grande
"Primeira mobilização de mão de obra direta vai ocorrer no início de março"
No mês passado, começou a correr o prazo para a entrega de quatro navios do tipo handymax que serão construídos em Rio Grande, marcando a retomada da atividade naval no Rio Grande do Sul. Nesta entrevista, o CEO da Ecovix, Robson Passos, detalha o processo, que prevê pico de 1,6 mil empregos, e projeta o próximo, que pode chegar a 2,9 mil.
Como o Ecovix foi de uma recuperação judicial complexa à vitória na licitação da Transpetro?
A reestruturação começou em dezembro de 2016. Foi exitosa, porque enfrentou toda a crise do setor naval. Conseguimos atravessar. No ano passado, apresentamos proposta em licitação da Transpetro para construção de navios handymax, associados ao estaleiro MacLaren, do Rio de Janeiro, e o consórcio foi vencedor.
Foi difícil fazer seguro para construção de navio?
Sim, o segmento ficou parado por 10 anos. É um contrato de US$ 278 milhões (R$ 1,5 bilhão). Depois de um trabalho intenso, no final de setembro o contrato passou a vigorar, e a Transpetro já fez o adiantamento contratual.
Quais os próximos passos?
Estamos com um time de técnicos das áreas de engenharia e de suprimentos na Noruega para duas semanas de trabalho. É uma aproximação entre o cliente Transpetro, a projetista contratada por nós, a norueguesa Kongsberg, e nossos times. Vamos aprovar os desenhos e documentos técnicos para comprar materiais e equipamentos. Nosso objetivo é iniciar o processamento de aço desses navios em março.
Seria o início efetivo da construção dos navios?
A primeira mobilização de mão de obra vai ocorrer no início de março, para começar a processar esses equipamentos no final de março. O cronograma oficial previa um pouco mais tarde, mas é nosso interesse antecipar. Antes, vai haver uma pequena preparação do canteiro para o projeto.
Há mão de obra?
No auge, o polo naval de Rio Grande teve 22 mil pessoas trabalhando. Só a Ecovix empregou 14 mil pessoas, entre mão de obra direta e indireta. Agora, os contratos são significativamente menores. Para dar uma ideia, no auge tínhamos contratado para a Petrobras oito cascos de plataforma de 40 mil toneladas cada. Os quatro handymax juntos somam cerca de 20 mil toneladas. O conjunto é metade do que era um único casco. Então, esse primeiro contrato é muito importante porque nos ajuda a retomar de forma segura, mas vai demandar menos mão de obra.
? Quanto?
Prevemos um pico de 1,6 mil trabalhadores. No passado, a Ecovix e outros estaleiros capacitaram pessoas. Hoje, em Rio Grande, temos 5 mil metalúrgicos desempregados que precisam ser ocupados. Quando a Ecovix entrou em crise, foram trabalhar no EBR, em São José do Norte, que paralisou as atividades no final do ano passado. Temos obrigação de trabalhar para gerar empregos para toda essa mão de obra.
Há medo de revisão de planos com troca de governo?
É um ponto que o segmento sempre questionou. A construção naval não pode ser uma política de partido ou de governo. Tem de ser programa de Estado. Trump adotou medidas para retomar a construção naval nos Estados Unidos, e está no extremo oposto. Isso mostra para a política nacional que o assunto não pode ser tratado como política de partido.
Transpetro e Petrobras afirmam que esse programa é diferente do que levou à crise. Tem mais sustentabilidade?
Sem dúvida. O programa prevê 25 embarcações e tomou cuidados para garantir a retomada de forma responsável e sustentável, a começar pelos tamanhos dos navios. Começa com pequenos, para que os estaleiros voltem a operar, preparem a mão de obra e entrem em regime normal de operação. Depois, pode aumentar. A expectativa é de que venham embarcações maiores em 2026.
Vão manter os serviços?
Sim, esse contrato ocupa um pouco menos de 10% da nossa capacidade fabril. A capacidade de processamento é 80 mil toneladas de aço por ano. E o prazo de entrega é quatro anos. De 2017 até o ano passado, o que nos garantiu sobrevivência foi essa diversificação, que nos permitiu executar 18 reparos navais. Não tínhamos expertise, mas conseguimos atender.
Vão disputar outras?
Participamos de uma segunda licitação para oito navios gaseiros, divididos em dois lotes, um de três e outro de cinco. Prevê que a mesma empresa não pode levar os dois. Fomos chamados pela Transpetro e estamos aguardando o resultado. Estamos bem posicionados no lote B, de cinco navios. A proposta é de cerca de US$ 415 milhões. Deve ser definido até novembro.
Também em consórcio?
Nesse, estamos independentes. Puro sangue, como a gente diz. A ocupação subiria de 10% para cerca de 20%, com mobilização de 2,9 mil trabalhadores, ainda dentro do número que está disponível em Rio Grande. _
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