sexta-feira, 10 de outubro de 2025


10 de Outubro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Lula, Tarcísio, Rolling Stones e impostos

Recém-saído de uma vitória maiúscula na Câmara dos Deputados com a aprovação unânime da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, o governo Lula sofreu uma derrota acachapante no mesmo plenário na quarta-feira. Líderes da situação creditaram o revés à articulação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, formalmente candidato à reeleição mas sempre "suspeito" de disputar o Planalto.

A imposição do fracasso teria sido motivada por interesses eleitorais. Pista melhor poderia vir de um clássico dos Rolling Stones. Não porque seu líder, Mick Jagger, virou torcedor símbolo de todas as derrotas, mas porque compôs You Can?t Always Get What You Want (algo como "você nem sempre consegue o que quer").

Há uma semana, para bancar a isenção - orientada por interesses eleitorais, do governo que propôs aos deputados que não ousaram votar contra, o governo havia aprovado aumento de impostos de cerca de R$ 30 bilhões.

R$ 47 bilhões em sete dias

A MP que caducou previa outros R$ 20 bilhões, que já haviam sido reduzidos para R$ 17 bilhões na tentativa de torná-la palatável, deixando no caminho o aumento da alíquota das bets de 12% para 18%. Em sete dias, seriam mais R$ 47 bilhões. Mesmo que falte justiça na distribuição, é muito.

Suas excelências tiveram novo episódio de crise de consciência e quiseram nos livrar do jugo tributário? Se tivessem, poderiam abrir mão de quase R$ 60 bilhões em emendas neste ano ou de R$ 4,9 bilhões em fundo eleitoral para o próximo.

Quiseram derrotar o governo, afinal, foram constrangidos a dar vitória da semana anterior para não perder votos. Mas identificaram um cansaço com aumentos de impostos sem esforço equivalente no corte de gastos. Agora, a equipe econômica ensaia alternativas para um rombo adicional estimado em R$ 45 bilhões entre este ano e o próximo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mencionou cortes em emendas parlamentares. Se não parecesse retaliação, não seria má ideia. O Brasil está caro para empresas e para os cidadãos. Nem sempre se consegue aumentar imposto indefinidamente. _

A expectativa de paz no Oriente Médio fez o petróleo cair 1,6%, mas no Brasil o dólar subiu 0,58%, para R$ 5,375, com a inquietação do mercado sobre como será fechado o rombo causado pela derrota do governo na Câmara.

Gigante global amplia área em Porto Alegre

Depois de meses de reforma, a Zara reabriu ontem sua loja no shopping Iguatemi, em Porto Alegre. A operação já funcionava de forma parcial há algum tempo e, agora, normaliza. Para finalizar as mudanças, o ponto estava fechado desde segunda-feira.

A nova unidade tem cerca de 2,2 mil m2, 600 m2 a mais do que a anterior em área de vendas. Com a reformulação, a Zara passa a ter no Iguatemi espaços dedicados só a sapatos, bolsas e perfumaria. A empresa não informa o valor do investimento. A Zara afirma que a reforma é baseada no novo conceito global, "organização inspirada em butiques", com salas interconectadas. _

loja de ferramentas na colômbia

Com 37 lojas de utilidades domésticas espalhadas pelo Brasil e Exterior, a Tramontina abre sua primeira unidade especializada em ferramentas. E começa pelo Exterior: a primeira T tools (T ferramentas, em tradução do inglês, como é chamada a operação) fica em Bogotá, capital da Colômbia. A empresa, que exporta para cerca de 120 países, estuda a abertura de novas T tools em outros locais.

Fundo que ajudou na enchente ainda tem recursos

Concebido para socorrer micro e pequenas empresas afetadas pela enchente de 2024, o fundo Retomada RS completou um ano de existência ontem com R$ 50 milhões emprestados a 665 empreendedores em 116 cidades gaúchas. O programa ainda tem R$ 15 milhões em caixa até o fim deste ano.

O Retomada RS foi criado em outubro do ano passado, com R$ 39,1 milhões para crédito com juro abaixo do mercado e prazo para começar a pagar (carência) de seis meses. Um dos beneficiados foi Ricardo Leal, fundador da Long Life, fábrica de racks automotivos com sede em Eldorado do Sul. No dilúvio de 2024, a água chegou a dois metros de altura na fábrica. Com empréstimo de R$ 200 mil via Retomada RS, Leal reforçou o capital de giro e recompôs o estoque. _

É preciso ter CNPJ ativo por ao menos 2 anos, com faturamento mensal de R$ 10 mil a R$ 400 mil.

Entrevista

Ricardo Geromel

Empresário, irmão do ex-jogador do Grêmio Pedro Geromel

"Assusta o quão ignorantes ainda somos sobre a China"

?O tarifaço pode permitir que empresas redirecionem suas exportações?

Faço negócio com a China há cerca de 15 anos, e o interesse chinês no Brasil está na máxima histórica. Agora, a China está percebendo oportunidade e vindo com os dois pés na porta, em vários segmentos.

Em que segmentos há maior interesse?

Tecnologia. O primeiro unicórnio brasileiro, empresa privada sem abertura de capital que vale mais de US$ 1 bilhão, é a 99, que foi comprada pela chinesa Didi. A maior empresa do mundo de entrega de comida, a Meituan, deve investir R$ 5 bilhões no Brasil.

Há avanços em segmentos menos conhecidos?

Sim, o de saúde, por exemplo. Já vemos tecnologia avançada na China em máquinas para hospitais. E logo vamos tomar remédios fabricados na China. A China era fábrica do mundo por ter mão de obra muito barata, e continua sendo por ter rede de suprimentos com tecnologia muito avançada.

Qual o gargalo na relação comercial entre Brasil e China?

A ignorância. Não aprendemos nada sobre China na escola. Entendemos e compramos o sonho americano. Todos nós ouvimos músicas em inglês, assistimos filmes americanos, o que impacta em quem nós somos. Assusta o quão ignorantes ainda somos em relação à China, mesmo na elite empresarial.

Como vê a relação entre Brasil e China no futuro?

A China, com quase 20% da população do planeta e nem 7% da terra cultivada, precisa importar alimentos. A China também, diferentemente dos Estados Unidos, não exporta energia e precisa importar petróleo. Então, precisa continuar fazendo negócios. _

GPS DA ECONOMIA

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