CAPA
O Dom Quixote do Bom Fim
Mesa-redonda celebra hoje os 50 anos de "O Exército de Um Homem Só", de Moacyr Scliar
Segundo romance de Moacyr Scliar, O Exército de Um Homem Só (1973) foi lançado nos anos de chumbo, no auge da ditadura militar no Brasil. Nele, o escritor dá vida ao Capitão Birobidjan, um judeu nascido na Rússia e estabelecido no bairro Bom Fim, em Porto Alegre, que sonha em fundar uma sociedade mais igualitária. Com a audácia de fazer uma sátira amarga do idealismo socialista em plena repressão, o livro - que é publicado pela editora L&PM - chega aos 50 anos sendo celebrado com uma mesa-redonda.
Os convidados são Regina Zilberman, professora de Literatura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e uma das maiores especialistas na obra de Scliar; o cineasta Carlos Gerbase; o psicanalista Abrão Slavutzky; o jornalista Tulio Milman e a escritora Cíntia Moscovich. Com entrada gratuita, o bate-papo ocorre hoje, às 19h30min, na Federação Israelita do RS (Rua General João Telles, 329), em Porto Alegre.
Guardiões do legado de Scliar, a viúva, a professora de inglês Judith Scliar, e o cunhado, o jornalista Gabriel Oliven, procuram manter aceso o impacto da literatura do escritor morto em 2011. Até porque O Exército de Um Homem Só ainda tem muito a dizer.
- O livro mostra a loucura que toma conta desse personagem e o leva a ser quase um Dom Quixote. A loucura acaba sendo um abrigo psicológico da frustração que é viver em sociedade - reflete Oliven.
De acordo com ele, Scliar se inspirou em um tio para compor a personalidade de Birobidjan, o idealista apaixonado Henrique Scliar, um dos fundadores do Clube de Cultura, espaço de resistência no Bom Fim. Judith acrescenta que o humanismo do personagem também fazia parte do caráter de seu criador, que, além da paixão pela literatura, era um médico dedicado à saúde pública.
- O Moacyr sempre lutou por um mundo melhor. Participava de movimentos de esquerda durante a faculdade, foi orador da turma ao se formar em Medicina e, no seu discurso arrasador, citou um poema do Ferreira Gullar falando que morrem quatro por minuto na América Latina, principalmente de fome - frisa Judith.
No debate sobre O Exército de Um Homem Só, Carlos Gerbase irá exibir três vídeos, dois deles feitos especialmente para a ocasião, retratando momentos importantes do livro. Uma das cenas conta com a atriz Mirna Spritzer e foi feita em 2014, para a exposição Moacyr Scliar, o Centauro do Bom Fim, que estava em cartaz no Santander Cultural (hoje Farol Santander), com curadoria do próprio cineasta. As outras duas são recentes e têm participações de Roberto Oliveira, Luiz Paulo Vasconcellos, Sergio Lulkin e Luciana Paz.
- Reli o livro para fazer os vídeos. É muito divertido e não envelheceu nem um pouco. É um retrato bacana de Porto Alegre e da comunidade judaica - diz Gerbase.
Reedições
A partir de setembro, a editora Companhia das Letras vai reeditar obras de Scliar. Começa com a reimpressão da edição de bolso de A Majestade do Xingu (1987), já prevista para o próximo mês. No primeiro semestre do ano que vem, a obra ganhará versão especial com capa nova, prefácio e posfácio inéditos de autoria dos escritores Paulo Scott e Michel Laub, respectivamente.
Outras novidades são uma edição ampliada de Contos Reunidos (1995), desta vez organizada por Regina Zilberman e com previsão de lançamento para o fim do ano que vem, além de uma adaptação em quadrinhos daquela que é considerada a obra máxima de Scliar, O Centauro no Jardim (1980), essa sem data para sair.
Demais títulos no catálogo da editora, como Sonhos Tropicais (1992), Saturno nos Trópicos (2003) e Manual da Paixão Solitária (2008), devem ganhar reedições com capas novas.
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