quarta-feira, 30 de agosto de 2023


30 DE AGOSTO DE 2023
CARPINEJAR

Eu não uso cinto no banco de trás

Passei a minha juventude sem colocar cinto na hora de dirigir. Na época, era um descalabro ficar amarrado ao banco de motorista. Poucos aceitavam. Parecia impensável a materialização da regra. Chegava-se a alegar que contrariava o princípio de liberdade.

Nas viagens em família, filhos eram transportados de pé, acenando para os outros condutores pelo vidro traseiro. Pulavam nas poltronas como se estivessem em uma guerra de travesseiros na cama. Todos seguiam assim, desconjuntados, inconsequentes, parafusos soltos prontos para um acidente fatal.

Hoje, dificilmente alguém não usa cinto na frente. Não apenas porque pode ser multado, mas pela conscientização de que é uma prevenção necessária em caso de colisão. É um segundo air bag disponível em qualquer carro.

Vidas foram poupadas nas últimas décadas a partir da obrigatoriedade. Assim como existia um preconceito com a sua aplicação no banco dianteiro - que não faz mais nenhum sentido atualmente, lembra tempos remotos e pré-históricos -, temos que avançar um pouco mais nos hábitos e empregar o cinto no banco de trás.

Confesso com misto de vergonha e culpa: não sou adepto. Precisarei mudar. Quando entro num táxi ou num Uber, quando sou carona de um amigo, não costumo me afivelar na proteção. Há uma preguiça da minha parte de procurar o encaixe nos vãos dos assentos. Acredito que a viagem é curta e nada vai me acontecer, ou me entretenho com o celular sem pensar na possibilidade de um solavanco, ou suponho que somente o motorista sofrerá danos.

Estou completamente equivocado. Meus filhos colocam, minha esposa coloca, e eu fingia até o momento que contava com uma imunidade especial. O perigo não abre exceções.

Como a irregularidade do uso do dispositivo na acomodação de retaguarda somente é flagrada em paradas numa blitz - a imprudência não é visível com o carro em movimento -, acabamos relaxando com a norma. Pelo jeitinho brasileiro, o que não dói no bolso não dói na consciência, infelizmente. Não é porque os azuizinhos não enxergam que eu devo não fazer. O caráter não depende de testemunhas.

É muito mais temerário não usar cinto no banco de trás do que no da frente, pois há mais espaço para a violência do choque. Você não se encontra fixo em ponto algum e corre o risco de ser lançado para fora do veículo ou voar em direção ao painel de instrumentos, ao volante ou ao para-brisa, sem contar a possibilidade de lesionar seriamente a cabeça em contato com o teto, ou mesmo ter as suas pernas prensadas pela sua posição absolutamente desprevenida.

Faço um voto aqui de transformação de mentalidade. Pode me cobrar. Até porque meu anjo da guarda, pela sobrecarga de meu mau comportamento, vem merecendo benditas férias.

CARPINEJAR

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