sexta-feira, 18 de agosto de 2023


18 DE AGOSTO DE 2023
DANIEL SCOLA

Dia de lembrar momento histórico para os gaúchos

O evento mais importante da história do Rio Grande do Sul no século 20 completa aniversário. São 52 anos. Não é uma data fechada, mas precisa ser saudada sempre, comemorada todos os anos. É o movimento da Legalidade. Foi uma união de forças para permitir que um gaúcho, o vice-presidente João Goulart, assumisse a Presidência da República.

Jânio Quadros havia renunciado em 25 de agosto de 1961 e a cadeira do presidente estava vaga. Como Jango estava fora do país, na China, os militares ensaiaram um golpe para impedir que ele tomasse posse quando voltasse. O governador gaúcho, Leonel Brizola, convocou a resistência e, do porão do Palácio Piratini, no centro de Porto Alegre, montou um estúdio improvisado para transmitir dali suas mensagens para a população. O sinal de transmissão era da Rádio Guaíba.

Brizola conseguiu o improvável: unir correntes de esquerda, de centro e de direita em torno da mesma causa. Era um movimento para resistir à pressão militar nacional. O telhado do Piratini ficou tomado de atiradores de elite prontos para abater possíveis ataques aéreos. Muitos gaúchos comuns pegaram em armas para defender a honra do Rio Grande. Brigadianos ajudaram civis a montar barricadas na Rua Duque de Caxias, na frente do palácio do governo, enquanto, no porão, Brizola instigava os gaúchos a serem resistentes. Ele mesmo carregava uma metralhadora. No meio dos dedos ou no canto da boca, seu indefectível cigarro.

Tudo isso pode ser lido, ouvido e visto em livros e conteúdo na internet. O movimento da Legalidade se alastrou pelo país a tal ponto que os militares acabaram sucumbindo: Jango voltaria e tomaria posse como presidente em 7 de setembro de 1961. Existem historiadores que sustentam que a Legalidade segurou um golpe mais amplo, que viria a ser desfechado três anos depois, em 1964.

A Rede da Legalidade se desfez 12 dias depois. A escolha do porão se deu, provavelmente, como forma de segurança para evitar áreas mais expostas. Para lembrar esse evento histórico, o estúdio usado pelo governador na época foi transformado em ponto central que honra o tamanho do acontecimento. O microfone é o mesmo que foi usado pelo governador. Para os que não se identificam com a ideologia de Brizola, não se pode desmerecer a Legalidade. O evento extrapolou bandeiras e, de fato, foi uma vitória gaúcha.

DANIEL SCOLA

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