quarta-feira, 9 de agosto de 2023


Costumes e geografia nordestinos no romance de Pio Furtado

Provência (Editora Alcance, 288 páginas, R$ 50,00) é o novo romance do destacado médico, cirurgião oncológico, professor universitário e escritor Pio Furtado. A alentada, densa e envolvente narrativa, traz personagens, amores, histórias e a geografia do Nordeste.
Pio Furtado é integrante da Academia Rio-Grandense de Letras e da Academia Brasileira de Médicos Escritores e escreveu os romances Neoplasia, Anatomia de um certo cirurgião, Vilipêndio, O Derradeiro Bandeirante, Em nome do Senhor e O Pavilhão dos Loucos Amores. Pio publicou Elívia, com contos, crônicas e fabulário moderno, e foi durante 30 anos professor de Anatomia Humana.
A narrativa traz um homem rude e ignorante que domina as águas de um rio solitário e peculiar esquecido no coração do agreste. Se algum desavisado lhe voltar as costas, num trompaço, é já que cairá no injurioso e ultrajante castigo do semiárido sertão. Ao entorno dele, por sua abonação e consentimento, surge um arruado que, mesmo ante as agruras e necessidades, vai virando aldeamento.
É um ajuntamento de fugidos da sede e da miséria, resignados, bem-ouvidos e longânimos que se valem, na mesma tampa, da religiosidade e do misticismo: beatitude e sectarismo. Cangaço, valentias, maldades e contradições impondo respeito, medo e terror aos ribeirinhos, aos longínquos povoamentos e aos insulares de terras esturricadas. Vidas impossíveis, gentes sem possibilidades e o improvável amor brota como a flor do mandacaru, em meio ao espinhos.
Na apresentação disse o poeta e escritor José Eduardo Degrazia: "Não sei de outro autor gaúcho que tenha escrito sobre os costumes nordestinos e a geografia local com tanta propriedade e numa prosa tão rica e ágil. A narrativa é bem desenvolvida e, dentro de um modelo realista, criativa e surpreendente. Os personagens são bem delineados e vivos, movimentando-se nesse cenário com legitimidade e profundidade humana. Ficcionista experimentado que é, Pio Furtado, com este Provência, presta uma bela homenagem aos nossos irmãos nordestinos com esse romance de costumes."

Lançamentos

Atenas (Livraria Edgardo Xavier, 136 páginas, à venda em lex.com.br), do consagrado Airton Ortiz, escritor e criador do jornalismo de aventura, autor de mais de 25 livros publicados e integrante da Academia Rio-Grandense de Letras, mostra porque a Grécia é a mensageira que infundiu e estruturou a civilização ocidental durante mais de 23 séculos.
Qual é o melhor investimento? #Depende! (Mentoria Meu Primeiro Livro, R$ 79,90), de Diego Angelos, consultor e educador financeiro, representante estadual da APOEF, é livro-curso-multiverso, imersivo e vivencial sobre investimentos. Lançamento 5/8 , 15h às 19h, no Quiero Café (Pça. Maurício Cardoso, 171).
Inteligência Artificial e Responsabilidade Humana (Editora Forum), do advogado e mestrando em Direito Thomas Bellini Freitas, traz, com profundidade, a relação entre a IA e o Direito, a evolução da IA e a inédita autonomia dos sistemas algorítimicos. O mau uso da IA e as responsabilidades são examinados em detalhes. 

A ordem do caos

A gente escreve com a vontade, o sonho e uma certa ilusão de colocar um pouco de ordem nesse caos cotidiano, tão pós-moderno , atulhado de sons, imagens, palavras , verdades e mentiras e falta de referências ou de pessoas mais duráveis. Hoje está valendo tudo, para todo mundo, ao mesmo tempo e tudo rápido . É a tal modernidade líquida tão bem descrita pelo saudoso Zygmunt Bauman.
Melhor seria se a gente fosse calmo, bravio, eterno , transparente, escuro, raso, profundo, bonito e imenso como o mar. A gente seria tudo. Mas somos apenas precários humanos em rápida passagem pelo planeta, tentando (ou não) fazer o melhor que pudermos enquanto ainda conseguimos respirar. E a pandemia mostrou , ainda mais, a importância de respirar e de ter consciência do que o corpo e a alma andam fazendo.
Falando mais de realidade concreta , antes já estávamos polarizados. Tempo do regime militar, a favor ou contra. Depois fora Collor, Sarney, FHC, Lula, Dilma, Bolsonaro e agora já começa o fora Lula. Sempre teve no Brasil o bloco dos “fora fulano”, muitas vezes achando que, mudando o presidente , a gente ia mudar o resto. Infelizmente não é tão simples assim e o melhor , claro, seriam soluções que privilegiassem o coletivo , o bem comum e passagens mais serenas de poder. É preciso repensar os poderes dos três poderes – harmônicos e independentes entre si - e a mecânica de funcionamento. A população está cansada e, antes de atos violentos que por sinal já ocorrem , melhor seria prevenir do que remediar.
Hoje estamos aí tentando separar o joio do trigo do noticiário. Estamos tentando botar fé na ciência, ciência na fé, acreditar ainda no “novo normal” , como se antes as coisas e o mundo fossem lá muito normais. Nas últimas eleições ao menos boa parte do eleitorado mostrou que não acredita mais em radicalismos e que pretende pessoas públicas e visões de poder mais equilibradas.
Nas últimas eleições, presidenciais e nas outras recentes, assustou a abstenção e os votos nulos e em branco de aproximadamente um terço do eleitorado. É preciso refletir e agir sobre isso e saber exatamente o que acontece. É preciso ouvir os ausentes e os silenciosos e a partir daí pensar no que fazer. Nem é questão de examinar só o voto obrigatório ou a necessidade de voto impresso. O buraco é bem mais embaixo.
Dizer que está tudo errado ou tudo certo não parece a melhor atitude. Melhor criticar o que está mal e elogiar o que foi bem feito . Maniqueísmos, totalitarismos e manipulações via redes sociais e outras mídias , além de não funcionar por muito tempo, mostram que isso é ruim para todos, inclusive e especialmente para os que acham que são os eternos donos do campinho. Ninguém é eterno e ninguém é dono do campinho por todo o tempo. O tempo e o povo são os melhores juízes e a vida segue, a fila anda. Por vezes meio lentamente, outras vezes nem tanto, mas a humanidade vai se movimentando, buscando futuro melhor.

A propósito

Sim, claro, não é apenas escrevendo que tentamos colocar alguma ordem no caos. Pensando, refletindo, falando, agindo e interagindo melhor, quem sabe a gente consiga equilibrar esses desejos demasiadamente humanos de obedecer e desobedecer, botar e tirar a máscara, cumprir e descumprir as leis. Debaixo de nossa casquinha de verniz civilizado sempre está a barbárie pronta para atacar. Não é fácil, nunca foi. Nem Freud explicou tudo, embora tenha explicado bastante. Hoje, principalmente, precisamos entender que o melhor para o coletivo é o melhor possível envolvendo todos os indivíduos. Os donos do poder político, financeiro, econômico e midiático se acham imortais. Depois de colocada a ordem no caos, tenho minhas dúvidas.

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