terça-feira, 15 de agosto de 2023


15 DE AGOSTO DE 2023
RELAÇÕES ENTRE PODERES

Fala de Haddad causa polêmica no Congresso

Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo veiculada ontem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a Câmara dos Deputados tem um poder muito grande e é preciso construir moderação em relação a outros poderes.

- A Câmara está com um poder muito grande e não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo. Mas, de fato, ela está com um poder que eu nunca vi na minha vida. Tem de haver uma moderação que tem de ser construída - disse.

Haddad afirmou que o país vive uma situação estranha em um tipo de parlamentarismo sem primeiro-ministro. - A gente saiu do presidencialismo de coalizão e hoje vive uma coisa estranhíssima, que é um parlamentarismo sem primeiro-ministro. Não tem primeiro-ministro, ninguém vai cair, quem vai pagar o pato político é o Executivo - disse.

Ele também pontuou que o volume de recursos do orçamento destinado a emendas parlamentares é muito elevado. - Eu não sei como resolver e não sei se tem solução. São R$ 40 bilhões em emendas, é 0,4% do PIB. Em que lugar do mundo você tem isso? - questionou.

Cancelamento

Lideranças na Câmara ficaram incomodadas com declarações de Haddad e estranharam a postura do ministro. Em reação, o presidente da Casa, Arthur Lira (PP- AL), cancelou a reunião que ocorreria ontem à noite com o relator do novo arcabouço fiscal, Claudio Cajado (PP-BA), líderes partidários e técnicos da equipe econômica para discutir as mudanças feitas pelo Senado no texto.

Em seguida, Haddad buscou conter os danos de suas declarações. Ele disse que ligou para Lira para tentar esclarecer a fala que, segundo ele, não se tratou de crítica à atual legislatura.

- As minhas declarações foram tomadas como uma crítica (à atual legislatura). Eu estava falando sobre o fim do presidencialismo de coalizão - afirmou Haddad.

O ministro descreveu a conversa com Lira como "excelente". Segundo Haddad, Lira indicou que caberia esclarecimento por parte do chefe da Fazenda, porque a declaração, como foi feita, poderia soar como crítica direcionada.

- Falei com Lira, fiz questão de ligar a ele - acrescentou Haddad. Ao falar com a imprensa para tentar esclarecer o ocorrido, o ministro voltou a elogiar o Congresso.

- Todo esse tempo tudo que tenho feito é dividir com o Congresso, Câmara, o Judiciário, as conquistas do primeiro semestre. Longe de mim criticar a atual legislatura - disse Haddad, citando a atuação dos parlamentares em projetos como o novo arcabouço fiscal, a reforma tributária e o projeto que retoma o voto de qualidade do Carf.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, evitou estender o conflito. Ele garantiu que a relação com a Câmara está melhorando.

- Hoje (ontem) pela manhã, inclusive, eu estava com o presidente da Câmara Arthur Lira, conversando sobre o PAC. Diria que estamos cada vez mais aprimorando esse diálogo - afirmou Costa, à GloboNews.

Desde o inicio do governo Lula, o governo tem mostrado dificuldades em avançar suas pautas sem o apoio do centrão, bloco comandado por Lira. Esse cenário aumentou o apetite do grupo por cargos, levando a uma reforma ministerial, que está na mesa de Lula, que deverá decidir em breve, segundo Costa, quais pastas devem ser dadas para representantes das siglas de centro, para que o Executivo possa garantir governabilidade.

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