Sou supersticioso, e você?
Dificilmente você não será supersticioso.
As simpatias criam a sensação de que podemos nos prevenir do pior. São associações de alívio, de poder e de proteção que nos dão um falso controle sobre o que vai acontecer. As receitas herdadas por gerações garantem uma previsibilidade pacificadora, reduzindo o medo e a ansiedade.
Num mea-culpa, vi o quanto permaneço supersticioso. Não imaginava. Pensava que o estudo e a experiência haviam desarmado as crendices populares, deposto os ritos da sorte e do azar.
Apesar da consciência de que são improváveis e até absurdos, acabo cedendo aos velhos hábitos, não contrariando os ensinamentos mágicos. Ainda não estou preparado emocionalmente para me desvencilhar deles. Não quero correr riscos à toa:
- Tenho a camiseta da sorte para torcer pelo meu time. É um sudário, um trapo, tanto que é impossível tirar a asa dela na lavagem.
- Evito manga com leite. Dizem que a mistura é fatal. - Jamais nego comida para uma grávida (por consideração, e para prevenir terçol). - De jeito nenhum abandono o meu chinelo virado. Minha mãe pode sofrer um acidente (ou morrer).
- Se sinto a minha orelha quente, sou motivo de fofoca. - Não engulo chiclete. Vá que grude no meu estômago. - Em recreações ou shows lotados, cuido para não pular sobre as crianças (não crescerão mais). Tampouco passo a vassoura perto dos pés das pessoas ao limpar a calçada (não casarão).
- Coloco a vassoura atrás da porta para espantar visitas indesejadas. - Já com as visitas desejadas, defendo que saiam pela mesma porta por que entraram, e eu devo puxar a maçaneta.
- Mostro as estrelas sem apontar, para nenhuma verruga surgir em meu dedo.
- Não permito que minha esposa coloque a sua bolsa no chão. O dinheiro dela irá embora e as contas sobrarão para mim.
- Não espiei a minha esposa vestida de noiva antes do altar. Traria azar para o nosso relacionamento. Aliás, choveu no dia do nosso casamento por minha culpa, pela mania de roubar a comida da panela.
- Tomo banho antes de jantar, nunca depois, para não ter indigestão. - Bato três vezes na madeira quando alguém fala de morte ou de doença. - Só abro o guarda-chuva na rua.
- Não passo por baixo de uma escada. - Seguro o saleiro com o máximo respeito. Derrubá-lo comprometerá o andamento de meus negócios.
- Não brinco de careta em ventania. Talvez paralise a feição para sempre (também não é indicado a quem aplicou botox).
- Não arranco uma banana quando ela está de par num cacho. É pedir gravidez de gêmeos. - Quando coça a palma da minha mão, pressinto que entrará Pix em minha conta.
O que nem cogito em fazer, pois envolve maus-tratos com animais, é colocar a ponta do rabo de um gato preto dentro das minhas orelhas para curar dor de ouvido.
Deixemos os bichinhos fora de nossas loucuras.
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