08 DE AGOSTO DE 2023
CARPINEJAR
O parque da desarmonia
O Parque Harmonia vem trazendo o contrário do seu nome. É só cizânia. Fez a proeza de unir a insatisfação de tradicionalistas e ambientalistas simultaneamente, numa reedição dos bastidores da Guerra dos Farrapos.
Houve o corte de 103 árvores, sendo que 40 estavam em estado fitossanitário ruim e duas mortas. Mas no caso das outras 61, pelo jeito, não tinha necessidade da extração. Em 30 de julho, para entender o desmatamento, a Justiça suspendeu imediatamente as obras da GAM3 Parks, concessionária responsável pelas intervenções no local.
Em seguida, na sexta-feira, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) decidiu revogar a medida, até que sobrevenha o julgamento do recurso. A novela mobilizou a opinião pública. Mesmo que não aconteça mais um recuo da reforma por imbróglio jurídico, o que está em questão agora é o mérito da construção.
Realmente não é possível remover árvores sem a devida explicação para a população sobre o impacto ambiental na área. Ainda mais quando a previsão era a derrubada de 432 delas, 36% do total das cerca de 1,2 mil existentes, para transformar o Harmonia num centro permanente de diversões e de eventos.
Surge o risco de desfigurar o parque num efeito cascata na cadeia alimentar. Pois, extinguindo porção significativa da flora, a fauna será também desalojada. Oitenta e cinco espécies de aves perdem tanto parte do seu hábitat como parte do seu alimento, já que os insetos desaparecem com a terraplanagem, com a respectiva retirada da grama do lugar.
Paira no imaginário popular o medo de um crime ambiental e cultural, apesar de a prefeitura defender as regularidades da intervenção. O parque não será mais como antes, tendo o seu acesso redirecionado para fins consumistas e para um retorno financeiro da concessão de 35 anos. Não se investe num lugar para ter prejuízo.
O fantasma da ganância que nos assombra é que o terreno caracterizado pela sua natureza exuberante, de 175 mil metros quadrados, vire uma derivação espúria de shopping center, alterando a sua condição de usufruto. O questionamento se centra na finalidade do espaço: será que queremos as fartas sombras das árvores para os piqueniques e reuniões de família ou uma roda gigante de 72 metros?
A pressa para realizar o Acampamento Farroupilha, nossa maior festa regional, prejudica o discernimento. A ameaça de um cancelamento cria desespero entre os 232 piquetes que começarão a ser montados a partir de 12 de agosto. Qualquer nova paralisação comprometeria o cronograma do evento. Não dá para fazer churrasco em paz com a fogueira das vaidades.
O que sinto é que ninguém está conseguindo pensar direito e chegar a uma decisão de grandes dimensões, que afetará o destino de nossa cidade. Dependeríamos de tempo, discussões e diplomacia depois da chama crioula, não nesse momento, não nesse afogadilho.
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