15 DE AGOSTO DE 2023
ARGENTINA
"Foi um terremoto de grau 9 na escala Richter"
Fabio Giambiagi, economista de linha ortodoxa nascido no Brasil mas filho de argentinos, que acompanha com minúcia o desenrolar do drama no país de seus pais, caracterizou o resultado de domingo como "um terremoto de grau 9 na escala Richter" - que vai até 10.
O que ocorreu na Argentina?
Foi um terremoto de grau 9 na escala Richter. Até agora, Milei vinha sendo tratado como alguém relevante mas que estaria fora do páreo no segundo turno. A partir de hoje, tem quem o considere favorito. De qualquer forma, passa a ser necessário levá-lo mais a sério, embora ninguém saiba o que o candidato fará em caso de vitória.
Por que houve reação tão negativa do mercado?
Temos pela frente dois meses muito complicados, com 8% de inflação mensal (no Brasil o acumulado em 12 meses é de 3,99%), com o dólar nas nuvens. Temos uma virtual acefalia de poder, porque o atual presidente não fala com a sua vice (Cristina Kirchner), que se refugiou em Santa Cruz (província de origem de Néstor Kirchner, ex-presidente já falecido que foi marido de Cristina). E Massa (Sergio, candidato à sucessão do atual presidente Alberto Fernández) foi abandonado. Então, tem um calvário pela frente. Serão dois meses complicados, e um terceiro provável com o segundo turno.
Existe possibilidade de união entre as forças, de governo e de oposição, para barrar Milei?
Pelo apoio político que tem, seria razoável imaginar que Patricia (Bullrich, candidata da oposição) poderia ter mais chances em eleição menos emocional, mas ontem (domingo) se abriu a caixa de pandora. E não se pode descartar que setores que apoiam o atual governo votem em Milei para forçar uma experiência em condições extremas e apostar no fracasso dele para voltar com mais força. O diálogo entre governo e oposição hoje é muito difícil porque teria de incluir alguma intervenção na Justiça para frear os processos contra Cristina. É uma situação que envenena as condições de diálogo.
Milei tende a mudar o discurso daqui para a frente?
Como ele dificilmente não estará no segundo turno, não tem incentivos para moderar o discurso. Há uma parte desencantada ou desesperada do eleitorado que quis chutar o pau da barraca, votar em alguém que vai implodir o sistema, seja lá o que isso for. A questão é que temos de pensar no day after. Às vésperas da eleição, houve episódios de violência chocantes na Argentina que mexeram muito com o emocional do eleitorado, inclusive em uma prefeitura ocupada pela atual oposição.
MARTA SFREDO
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