Inflação: gasolina pesa, diesel espalha
O aumento nos preços dos combustíveis nas refinarias era mais do que esperado e, mesmo assim, surpreendeu, pelo tamanho: 25,8% no diesel e 16,3% na gasolina. São pancadas que terão eco nos próximos índices de inflação e, consequentemente, podem afetar o ritmo do ciclo de baixa do juro básico.
Embora tenha a virtude de confirmar que a Petrobras não vai se afastar das referências internacionais, reajustes deste tamanho vão gerar impacto significativo nos próximos índices de inflação. A gasolina tem efeito mais direto para elevar o IPCA, enquanto o diesel vai fazer com que a inflação se espalhe mais, por contagiar vários outros preços na economia, do frete ao pãozinho, já que boa parte da produção nacional circula de caminhão.
- A gasolina compromete cerca de 5% do orçamento familiar. O aumento autorizado na refinaria foi de 16,3%, então algo em torno de 5,5%, cerca de um terço, deve chegar à bomba. Considerando que a gasolina pesa 5%, e que deve aumentar também em torno de 5% na bomba, o impacto em agosto deve ficar em torno de 0,13 ponto percentual, assim como em setembro - projeta André Braz, coordenador de índices de preços ao consumidor do Ibre-FGV.
Embora tenha subido mais, o diesel pesa menos - de forma direta - no custo de vida, cerca de 0,2%. Conforme Braz, na bomba o aumento desse combustível deve ficar ao redor de 9%. Considerando esse aumento e o peso de 0,2% no custo de vida, a contribuição para a inflação de agosto deve ser de 0,01 p. p., com outra dose de mesmo tamanho em setembro.
Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena, projeta o impacto total estimado para o IPCA de 38 pontos básicos. Com isso, a projeção da inflação anual vai de 4,6% para 5% - portanto, acima do teto da meta, que é de 4,75%. Com inflação para além do teto, o fato de o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ter mencionado o "impacto" do "aumento grande em combustíveis" pode ecoar na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom)para avaliar corte de juro.
A decisão da Petrobras veio em dia de baixa na cotação do petróleo tipo brent (-1,4%), mas o barril ainda é cotado cerca de 15% acima do que estava quando a estatal anunciou o fim da Paridade de Preços de Importação (PPI), em 16 de maio.
ENTREVISTA ESTHER DWEK Ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos
A ministra da Gestão, Esther Dweck, esteve ontem em Porto Alegre, para a primeira oficina regional com objetivo de elaborar a Estratégia Nacional de Governo Digital, realizada no Instituto Caldeira. Na saída, ouviu cobranças de servidores por reajuste - como havia ocorrido durante a live que batizou o real digital como Drex. Depois, deu entrevista exclusiva à coluna.
Como avança a negociação para reajuste dos servidores, que vêm pressionando muito?
Retomamos, no início do ano, a mesa nacional de negociação, que teve caráter emergencial e justamente permitiu que fizéssemos um acordo de 9% para esse ano ainda, pago a partir de maio, também com um aumento no auxílio alimentação. Depois, fizemos um protocolo de abertura com três níveis: a nacional e geral, as específicas para cada carreira, e as setoriais, que são internas dos ministérios para temas que não envolvem remuneração. Para o próximo ano, temos uma mudança na regra fiscal. O arcabouço fiscal ainda não foi aprovado e, com isso, não temos os limites definidos. Então, começamos a discutir as aberturas das mesas específicas, o que não é rápido. Essas mesas vão ser abertas a partir de setembro, e vamos ter uma sequência de 10 meses de negociações, por grupos de carreira.
O governo não quer propor fim da estabilidade, mas há pressões no Congresso, como conciliar?
Sabemos que existe uma proposta de emenda constitucional (PEC) no Congresso, sobre a qual estamos dispostos a dialogar. Se o Congresso quiser abrir a discussão sobre a PEC que está lá, estamos disponíveis para dialogar, mas a nossa visão sobre uma proposta que seria encaminhada pelo governo não envolveria uma emenda constitucional.
Qual o foco da reforma administrativa pretendida pelo governo?
Vai desde a discussão da Lei de Cotas por acesso à da ascensão na carreira, a formação continuada dos servidores, como ter menos discrepância entre os grupos, como se pode alongar as carreiras, já que nossa ideia é que os servidores fiquem muito tempo e tenham uma perspectiva de progressão.
O que é realista esperar do PAC, que teve sua contriuição?
Houve tentativa de diminuir a importância do lançamento, mas o governo atual tem um acúmulo de experiência, ministros que são ex-governadores, com experiência. Há muitas obras que estavam paralisadas que tem menos discussão em relação a licença ambiental, porque já estavam autorizadas, então tem tudo para deslanchar com rapidez. O PAC envolve não só recursos públicos, mas também parcerias com o setor privado, e também já existem modelos para fazer isso, então tenho expectativa de que a gente vai conseguir rapidamente acelerar esse processo. O que o presidente (Lula) fala é que o governo não vai fazer tudo, sem o setor privado as coisas não vão andar.
Uma das cobranças sobre o PAC é de governança, como será aprimorada?
Existe o CG (Comitê Gestor) PAC, coordenado pela Casa Civil, do qual a Gestão faz parte. Isso está bem equacionado, o presidente vai manter um sistema talvez com uma periodicidade um pouco diferente dos PACs anteriores, deve haver dois ou três balanços por ano. Por mais que isso gere questionamentos, e a imprensa sempre vai (focar) nas obras com atraso e não nas que estão andando, é essencial (monitorar) para manter um ritmo pesado sob os ministérios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário