A rejeição ao livro
O governo de São Paulo decidiu abolir o livro didático impresso em algumas séries das escolas públicas daquele Estado, substituindo-o por conteúdo 100% digital. Decidiu num dia e no outro já voltou atrás, pois a gritaria foi grande, especialmente por parte de educadores e de editoras que têm o Ministério da Educação como principal cliente. Mas a questão não está encerrada: as autoridades paulistas continuam convencidas de que crianças e adolescentes podem aprender mais interagindo em telas e assistindo a audiovisuais do que por meio da leitura de livros tradicionais.
A Unesco, braço das Nações Unidas para a educação, diz que não é bem assim. Estudo divulgado recentemente indica que a leitura em papel proporciona melhor compreensão e retenção de informações do que a visualização nos meios digitais. Uma das razões apontadas pelos pesquisadores é a distração causada por equipamentos eletrônicos, conclusão que também está levando alguns países a proibir o acesso ao celular pelos estudantes nas salas de aula.
Parecia que essa discussão já estava superada, mas, pelo jeito, o debate ainda vai longe. Contextualizando: fecha-se um pouco mais o chamado Parêntese de Gutenberg, período histórico caracterizado pela difusão do conhecimento a partir da invenção do tipo móvel para impressão de textos. Os livros ainda ocupam espaço significativo nas nossas vidas, mas não há como ignorar que os jovens passam a maior parte do tempo concentrados (ou desconcentrados, sei lá) nas telas de seus celulares. Os jovens e os nem tanto. Você aí, caro leitor e amável leitora, dedica mais horas de seu dia à leitura de impressos ou à telinha luminosa?
E não é só o livro de papel que está ameaçado pela hegemonia tecnológica. A letra cursiva - vejam só! - está sendo abandonada pelas escolas. A justificativa é totalmente pragmática: se meninos e meninas preferem digitar, por que exigir que escrevam à mão? A caneta e o lápis que ponham as pontas de molho, pois em breve poderão se tornar objetos de museu.
Sei que estou (estamos) aqui de passagem e que é melhor aproveitar a viagem do que ficar tentando alterar o rumo do trem da História, mas confesso que ainda não me sinto preparado para um mundo sem textos manuscritos e sem livros impressos. Por isso, ainda que pareça conservadorismo inconsequente, deixarei aqui assinado o meu protesto contra a campanha do governo paulista pela extinção dos livros.
Onde foi parar a minha caneta?
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