22 DE AGOSTO DE 2023
NÍLSON SOUZA
Açorianidades
Estou sintonizado com o projeto Ruas que não andei, lançado na semana passada pela prefeitura da Capital. Nas minhas andanças pela Porto Alegre de antigamente, vou descobrindo lugares e pessoas que têm a ver com minha própria história. Descendente distante dos açorianos que desbravaram esta cidade dos nossos andares, de vez em quando encontro rastros de antepassados nos velhos prédios que resistem ao tempo, nas próprias ruas e em fotografias amarronzadas por sucessivos crepúsculos.
Outro dia fiquei sabendo que tenho sangue do cronista mais antigo da metrópole, o célebre Antônio Alvares Pereira Coruja, irmão de um dos meus trisavôs. Mais recentemente, descobri que meu bisavô, também da família Coruja, foi batizado pelo vigário José Inácio, que dá nome a uma conhecida artéria do Centro Histórico.
Na semana passada, estive na Ponte de Pedra, no Largo dos Açorianos, para fazer uma foto da saída norte e confrontá-la com uma imagem de 1880, quando a travessia ligava diretamente a Rua da Figueira (atual Coronel Genuíno) à Zona Sul. Naquela época remota, o Arroio Dilúvio corria por lá e dificultava a passagem das pessoas e dos animais para a outra margem.
Por isso, em plena Revolução Farroupilha - segundo relata o historiador Leandro Telles -, o Barão de Caxias mandou construir uma ponte sólida sobre o riacho. Pois foi exatamente um açoriano da gema, o empreiteiro João Batista Soares e Souza, sócio do meu tio trisavô Manuel Fialho de Vargas Filho, o encarregado da obra, que acabou sobrevivendo aos fazedores de guerras e aos destruidores do patrimônio público para se transformar num dos mais conhecidos cartões-portais da nossa cidade. O riacho foi atulhado e desviado, mas a ponte continua lá, linda e acolhedora, ponto de encontro dos porto-alegrenses nos finais de tarde e símbolo da nossa vocação para superar obstáculos.
Fiz o registro fotográfico e me lembrei de ter lido que na chamada Praia do Riacho, onde foi construída a ponte, morava um sujeito de apelido Mil Onças, identificado pelos historiadores como o homem mais chato de Porto Alegre em todos os tempos. Quem passasse por lá, corria o risco de ser abordado pelo pegajoso contador de histórias, que falava sem parar e não soltava o braço do desavisado transeunte até que a noite chegasse. Não vou citar o nome do chatonildo, que também tinha sobrenome açoriano, para não constranger seus descendentes. Mas já investiguei sua árvore genealógica e posso garantir que esse - felizmente! - não era meu parente.
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