sexta-feira, 18 de agosto de 2023


Feminino, excessos, vida, amor, ódio e dor

Não pise no meu vazio - Ou o livro do vazio (Editora Planeta, 208 páginas, R$ 54,90), de Ana Suy, psicanalista, professora universitária , escritora e pesquisadora, traz crônicas psicanalíticas que abordam o vazio existencial e questões como o feminino, os excessos, o vaivém da vida, o amor, o ódio e a dor, entre outros temas atuais e relevantes.
Ana é autora dos livros Amor, desejo e psicanáliseAs cabanas que o amor faz em nósA corda que sai do úteroA gente mira no amor e acerta na solidão e coautora de O infamiliar na contemporaneidade: o que faz a família hoje?
Depois do sucesso de A gente mira no amor e acerta na solidão, primeiro livro de Ana pela Editora Planeta, este Não pise no meu vazio, lançado originalmente em 2017, mostra como ela alia a prática psicanalítica à literatura e percorre a inconstância da vida, escrevendo sobre o amor, os sentimentos de ódio e dor e as faltas e os excessos de todos nós. Para esta nova edição, a autora revisou os textos publicados e acrescentou outros inéditos. Dividida em três capítulos, a obra explora tudo aquilo que preenche, esvazia e preenche e esvazia ao mesmo tempo.
Para Rita Manso, psicanalista em doutora em teoria psicanalítica pela UFRJ, que assina um dos prefácios da obra, "Não pise no meu vazio é um livro que acolhe o vazio com carinho, como condição necessária e fundamental da existência. Um livro escrito por gente. Gente de verdade. Gente incompleta, que se descompleta a todo instante no contato com o outro". Malvine Zalcberg, psicanalista e doutora em psicanálise, escreveu sobre o livro: "O amor é uma surpresa que, com exceções, contém seu fim. Como o evitar? Confiando na solidão. O amor que dura não se funda na ilusão de dois, mas na impossível comunhão, na solidão dos dois. Estar vivo é uma perpétua incerteza. É uma oscilação continua entre o cheio e o vazio, entre o que me pertence ou não pertence. " 

Lançamentos

• Tubo de ensaios (Editora Unicamp, 168 páginas, R$ 60,00), de Daniel Martins de Barros, psiquiatra, professor e escritor, trata, com linguagem acessível, da ciência em nosso cotidiano e seus impactos. Fatos científicos com exemplos de arte e do universo pop estão na obra, em meio a dietas, smartphones e decisões políticas.
• Alberto Giacometti (Estação Liberdade, R$ 83,30), biografia do grande e essencial artista do século XX, escrita por Catherine Grenier, diretora da Fundação Giacometti de Paris, com novas pesquisas, mostra a intimidade, o trabalho, as questões éticas e estéticas e o relacionamento de Giacometti com as pessoas.
 Longas Lâminas (Editora Rocco), novo thriller de Irvine Welsh,celebrado autor de Trainspotting, narra os desdobramentos do brutal assassinato de um político odioso e racista. A lista de suspeitos inclui empresários rivais, oponentes políticos, além dos incontáveis grupos que ele ofendeu. 

Felicidade

Meio pretensioso falar de felicidade em 3700 caracteres, mas o importante é ser feliz e disso eu e as torcidas do mundo não abrimos mão. Tem gente que se atreveu a falar de felicidade em uma palavra ou uma frase. Há que fale de felicidade apenas com um sorriso silencioso. Precisa mais?
Do javali devorado no jantar na caverna com a família e as histórias ao pé do fogo, até os atuais infindáveis objetos de desejo e de consumo e a insatisfação civilizada freudiana, muita conversa filosófica, religiosa, sociológica, psicológica e de mesa de bar rolou e rola sobre o tema, que, claro, é subjetivo e infinito como o amor, o sentido da vida e as perguntas: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?
Alguns filósofos gregos, os estoicos, associaram a felicidade com aguentar firme. Outras a associaram com a virtude ou o prazer e, na antiga China, Lao Tse falou em união com as forças da natureza, enquanto Confúcio relacionou felicidade com dever, cortesia e generosidade. Imagina Confúcio hoje por aí! Os budistas pensam em felicidade como superação dos desejos e a atitude mental que ilumine o que nos deixa felizes ou infelizes.
Cristo pensou que felicidade é o amor, enquanto Maomé enfatizou que seria a caridade e a vida após a morte. Os ingleses dos séculos XVIII e XIX do utilitarismo, refletiram que a felicidade move os humanos e que os governos deviam buscar a felicidade coletiva. O positivismo francês de Comte do século XIX colocou a felicidade ao lado da razão e da ciência, do altruísmo e da solidariedade.
Depois vieram Marx com a ideia de sociedade igualitária relacionada com a felicidade, e Sigmund Freud, com seu "princípio do prazer" e a conclusão de que seremos só parcialmente felizes. Pois é o mundo e as pessoas teimam em não ser o que a gente imagina e quer. Einstein disse que tudo é relativo.
E aí seguimos, com ideias e desejos de um PIBão, inflação baixa, alta renda per capita, poucas doenças, bem-estar e sonhos de morar no Canadá, na Nova Zelândia, na Austrália ou nos países nórdicos, onde, dizem, tem mais felicidade. Sim, mas por lá tem problemas também, brigas com imigrantes, alguns crimes e loucuras humanas. Nada, ninguém e nenhum lugar é perfeito. Pensando bem, a perfeição seria muito chata. Melhor assim, demasiadamente humanos, seres imperfeitos.
Cuidar do corpo, da mente e do espírito, amar, ter família e amigos, trabalhar no que se gosta, fazer exercícios, ajudar os outros, adaptar-se, rebelar-se, comer bem, transformar a tristeza, a depressão e os sentimentos ruins em coisas que prestem, como atitudes positivas, trabalho, arte, esporte e bom convívio; saber que a gente ganha a discussão não começando a discussão; sorrir e lembrar que rir é o melhor remédio; levar a sério a brincadeira, como sérias brincam as crianças; ter forte identidade étnica, pertencer a grupos, mas com independência pessoal; gostar do que se é e do que se tem; ser delicado, gentil e prestativo; e, claro, buscar formas individuais e pessoais para ser feliz, que a lista da felicidade jamais será completa. Essas são algumas ideias, dentre muitas.

A propósito
Ser feliz é, como disse Jackie Kennedy Onassis, emagrecer uns quilos e cortar o cabelo, especialmente se for com um cabeleireiro competente como o Marlus Lisboa, que ama sua profissão e trabalha feliz. Ser feliz é não figurar nas listas dos corruptos e saber que a Polícia Federal não vai bater em nossa porta. Ser feliz é acordar vivo de manhã e chegar em casa de noite, encontrando a família. Felicidade é degustar uva pensando em Bento Gonçalves, ouvindo o Tony Bennett, a Amy Winehouse e a Lady Gaga. Pensando bem, mas pensando muito bem, ser feliz é não pensar no assunto e aproveitar aqueles momentos fugazes e eternos para esquecer da morte, lembrar da vida e sorrir, sem medo de ter medo.

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