quinta-feira, 17 de agosto de 2023


17 DE AGOSTO DE 2023
CARPINEJAR

Polêmicas do Conselho Estadual de Cultura

O Conselho Estadual de Cultura (CEC), responsável pela aprovação de projetos aptos a captar recursos pela Lei de Incentivo à Cultura (LIC) do Estado, está chamando atenção nos últimos meses.

Se virou notícia, tem algo de errado, já que é uma instância de consulta e júri para dar visibilidade ao que há de melhor nas artes do Rio Grande do Sul.

Sua controvertida aparição na cena pública decorre da façanha de negar verbas a encontros inquestionáveis de nossa tradição, colocando em risco as suas respectivas realizações.

Reprovou a Feira do Livro.

Reprovou o Festival de Cinema de Gramado.

Reprovou o Acampamento Farroupilha.

Reprovou o Porto Alegre em Cena.

Reprovou o Musicanto.

Agora recusou a Expointer, alegando que é uma atividade própria do agronegócio. Trata-se de desconhecer a sua importância de lazer para mais de 600 mil gaúchos. É um costume assistir a shows no parque de exposições de Esteio. A edição deste ano, que ocorrerá de 26 de agosto a 3 de setembro, pode ficar sem programação de apresentações regionais, porque o projeto cultural, que previa a verba para pagar essas contratações, acabou sumariamente negado.

Ao desmerecer eventos de grande porte, historicamente consolidados, com sucesso de visitação, que elevam o nome do Estado nacionalmente e internacionalmente, comprometendo o planejamento de seus orçamentos, não sobrará nada para os pequenos eventos. Pois é uma cadeia de negócios. Atacou-se a base que gera investimentos para fortalecer o entorno cultural. Milhões de reais que seriam captados da iniciativa privada desaparecem pelo ralo.

Ameaçando o funcionamento da Feira do Livro, por exemplo, atinge-se a saúde financeira das livrarias de rua e dos autores independentes. Feiras por outras cidades também perdem valioso apoio da Câmara Rio-Grandense do Livro, que fornece logística e intermedeia nomes de relevância da área.

Emagrecendo de investimentos o Porto Alegre em Cena, nossa maior vitrine cênica, que estabelece intercâmbio local com as tendências e vanguardas do teatro, dança e música do cenário mundial, anfitriã de convidados como Peter Brook, Hanna Schygulla, La Fura Dels Baus e Philip Glass, colocam-se em risco festivais de menor porte, pois ela é responsável pelo reconhecimento e pela permanência em cartaz das nossas peças no Interior.

Valorizo a independência do Conselho de Cultura, formado por gente séria e diligente. De seus 27 integrantes, dois terços são eleitos por entidades culturais de todas as regiões do RS. Minha mãe já foi conselheira. Valiosos amigos já foram conselheiros, como o saudoso Walter Galvani, presidente por duas gestões.

Mas está ocorrendo um erro de interpretação da nossa realidade artística. Com o objetivo de priorizar propostas em municípios que menos receberam recursos da LIC nos últimos 12 meses, desprezando os bastiões anuais de plateia, prejudicam-se exatamente os municípios menos contemplados com evasão de público, desemprego de profissionais do setor e desligamento de patrocínio das maiores empresas. Não haverá negócios de um modo generalizado.

A lista sucessiva de recusas acontece ironicamente quando o governo do Estado duplicou os recursos para a LIC, passando de R$ 35 milhões para R$ 70 milhões. Ou seja, quando sobram recursos para as mais diferentes envergaduras de espetáculos, do mais incipiente ao mais consagrado.

O CEC, criado pela Lei Nº 14.310 de 30 de setembro de 2013, vem desmerecendo símbolos que surgiram muito antes dele.

Até porque sua origem tem como propósito incluir, não excluir. Como diz meu colega da Rádio Gaúcha, José Alberto Andrade: se todos os alunos são reprovados numa turma, o problema é o professor.

CARPINEJAR

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