sábado, 8 de novembro de 2014


08 de novembro de 2014 | N° 17977
PAULO SANT’ANA

Alô, Lauro Quadros!

Depois que o cirurgião Pereira Lima retirou de mim o segundo câncer, no intestino – o primeiro foi na garganta e obra cirúrgica do doutor Nédio Steffen –, tenho comido muito pouco. E lá já se vão quatro meses.

Para começar, não almoço muito. Só janto. E como bem pouco, poderia ser sustentado por um Bolsa Família.

Nem sei se é bom comer pouco, o que sei é que não era bom comer muito, como fazia antes dos cânceres.

Mas me preocupa comer tão pouco, só uma beliscadinha na janta. Será que não me vai fazer falta daqui a pouco uma alimentação farta e adequada?

O fato é que sinto saudade do tempo em que minha mesa era farta: toneladas de massas, feijões, arrozes, carnes, churrascos, galetos. Nada disso me pertence mais.

O fato é que emagreci, creio que assustadoramente.

É a tal coisa, assustava-me quando enchia a barriga e assusto-me agora, quando como tão pouco.

A vida é assim, tudo nos assusta.

Para quem pesava 85 quilos, agora pesar 67 quilos deve ser motivo de preocupação.

Sinto que o certo era agora pesar em torno de 76 quilos.

Mas é a tal coisa, uns choram a mágoa de pesar tão pouco, outros se amassam por pesarem muito, e até muitos deles tentam redução de estômago.

Ainda bem que, apesar de todos esses atropelos, não me ocorreu a redução de ideias: continuo raciocinando à bangu, desconfio que estou cada vez pensando mais e melhor.

Desconfio. Não sei se estou certo.

O Lauro Quadros, de quem tenho sentido falta no Sala de Redação, sempre foi um maníaco por balança. Pesava-se numa farmácia todos os dias, logo após sair do programa, e conferia na balança de casa.

O Lauro fazia da balança o mensuramento de sua saúde.

Nem sei direito do Lauro, dizem-me vagamente que ele viu descolada uma retina.


O que sei é que queria ver o Lauro novamente lampeiro e cheio de saúde. Não consigo sinceramente imaginar o Lauro Quadros doente.

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