24
de novembro de 2014 | N° 17993
EDITORIAL
ZH
DESENVOLVIMENTO COM MORALIDADE
Vamos
desenvolver o país, sim, mas é preciso, ao mesmo tempo, depurar a administração
pública e interromper a drenagem de recursos oficiais para o bolso dos
espertalhões.
Ninguém
questiona a preocupação do governo em sugerir uma agenda positiva para mudar o
rumo do noticiário, hoje centrado no escândalo da Petrobras. O país não pode
mesmo ficar paralisado. Mas também não dá para aceitar que o anúncio dos
futuros comandantes da área econômica e de algumas medidas pontuais possa
encobrir a megacorrupção descoberta na maior estatal do país.
As
duas frentes devem ser tocadas paralelamente. O Brasil deve andar, a economia
tem que ser revigorada e as instituições precisam continuar funcionando. Mas
nada disso pode pressupor impunidade, ainda que o custo possa se revelar
elevado num primeiro momento.
Antes
mesmo de informações estarrecedoras começarem a vir à tona a partir das
delações premiadas, a economia brasileira já se mostrava estagnada. Em
consequência, o país começou a registrar sinais preocupantes em sua
contabilidade pública. O principal deles é a queda do superávit primário, valor
reservado para os compromissos com os credores, que, do equivalente a 2,71% do
Produto Interno Bruto (PIB) no acumulado em 12 meses em janeiro de 2011, caiu
para 0,6% em setembro último.
O
cenário incerto levou o Planalto a recorrer ao Congresso na tentativa de
atenuar a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o que pode alterar a visão do
país por parte das agências de avaliação de risco e atemorizar investidores.
Se a
situação econômica e financeira já era difícil, o detalhamento do esquema
fraudulento na Petrobras amplia ainda mais as preocupações, o que vai exigir
ampla liberdade de atuação para a nova equipe. Contratos de projetos
importantes para o país, hoje sob a responsabilidade de grandes empreiteiras,
precisarão ser suspensos ou mesmo refeitos. Muitas empresas que nada têm a ver
com o caso também serão prejudicadas. Os danos, portanto, se estendem em
cadeia, atingindo trabalhadores e um ritmo de atividade que já era baixo.
Ainda
assim, não tem como ser diferente. Os brasileiros já cansaram de ver falcatruas
impunes sob o pretexto de que sempre foi assim e de que todo mundo faz. Não.
Vamos desenvolver o país, sim, mas é preciso, ao mesmo tempo, depurar a administração
pública e interromper a drenagem de recursos oficiais para o bolso dos
espertalhões, sejam eles agentes governamentais ou privados.
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