20
de novembro de 2014 | N° 17989
EDITORIAL
ZH
A CRISE É DE TODOS, MAS TEM
RESPONSÁVEIS
Os
danos causados pelo esquema criminoso montado na Petrobras prejudicam a todos,
mas têm responsáveis que as instituições estão desafiadas a identificar e
punir.
À
medida que avançam as investigações sobre o escândalo da Petrobras, o país
mergulha numa crise de indignação, incerteza e desconfiança que ameaça sua
normalidade social e econômica, mas não pode prejudicar a sua normalidade
institucional. A situação é grave. Nunca se viu um episódio de corrupção com
valores tão elevados e tamanho potencial de danos à economia, à sociedade e à
própria administração pública.
Porém,
as instituições democráticas estão sólidas. Se o Congresso, o Judiciário, o
Ministério Público e a Polícia Federal cumprirem suas atribuições
constitucionais, o Brasil certamente atravessará essa turbulência e sairá dela
mais íntegro e mais respeitado. Por isso, cada brasileiro tem que acompanhar de
perto o episódio para poder fiscalizar seus representantes e cobrar soluções.
Em
primeiro lugar, não dá mais para esconder o lixo sob o tapete. O que já veio a
público até agora, tanto pelas investigações da Polícia Federal quanto pelos
primeiros depoimentos dos investigados, indica a existência de um esquema
promíscuo entre agentes públicos, empresários e políticos, com revelações de
pagamento de propina, extorsão, fraudes em licitações e lavagem de dinheiro.
Mostra, ainda, que os valores subtraídos da sociedade brasileira são muito
elevados, deixando claro que nem o recrudescimento do rigor das instituições
contra a corrupção nos últimos anos foi suficiente para intimidar corruptos e
corruptores.
As
informações conhecidas até agora sobre os montantes desviados dão uma ideia
clara da desfaçatez. Basta lembrar que o mensalão – o caso mais rumoroso de
corrupção julgado até hoje pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – teria
movimentado cerca de R$ 141 milhões no primeiro mandato do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Agora, só o valor que apenas um ex-gerente da estatal se
dispõe a devolver para alcançar os benefícios da delação premiada é de US$ 100
milhões. São mais de R$ 250 milhões, quantia muito superior à do mensalão. E
não é improvável que os recursos gerados no esquema de superfaturamento na
estatal tenham alcançado R$ 10 bilhões, total sem precedentes na história.
Nessas
proporções, é certo que as consequências atingem os brasileiros de maneira
geral, e não se limitam aos bilhões de reais desviados. O desmonte do esquema
já afeta em cheio grandes empreiteiras, ameaça descontinuar obras importantes
por todo o país, o que pode gerar desemprego, afetar o sistema financeiro, além
de desgastar a imagem da economia brasileira perante investidores e parceiros
externos.
Os
danos causados pelo esquema criminoso montado na Petrobras prejudicam a todos,
mas têm responsáveis que as instituições estão desafiadas a identificar e
punir. Nesse cenário desalentador, em que o Executivo tem grande
responsabilidade pela omissão diante de fatos há muito conhecidos, a presidente
Dilma Rousseff também está desafiada a dar respostas convincentes e objetivas,
a começar pela escolha imediata de um ministério confiável, com atenção
especial aos que precisarão enfrentar diretamente os danos provocados por esse
esquema aterrador.
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