sábado, 22 de novembro de 2014



23 de novembro de 2014 | N° 17992
VIDA INTERIOR | Diana Corso

Banheiro feminino

POR QUE ARQUITETOS e engenheiros, principalmente profissionais mulheres, planejam banheiros simétricos?

Há um território em que fica muito evidente a diferença entre homens e mulheres: o banheiro. Num congresso recente ocorreu o de sempre: a longa fila de mulheres saía do banheiro, de tal modo que o coffee break não passou de pipi break. Enquanto isso, o recinto equivalente masculino estava às moscas, e os rapazes, livres das suas premências urinárias, puderam descansar e lanchar.

Há um tempo, adoto uma prática “terrorista”, que conta com a conivência de um homem solidário que age como batedor. Ele entra, verifica se há algum usuário em situação constrangedora e, quando o território fica liberado, dá a deixa para que possamos invadir o banheiro masculino. Na sequência, é colocada uma sentinela na porta, e as mulheres desafogam sua fila, numa espécie de alvoroço transgressivo. Já existem locais, evidentemente em ambientes mais civilizados, em que não há separação entre o masculino e feminino. Pelo jeito, frequentar os mesmos banheiros não redunda necessariamente em assédios sexuais.

Mulheres vão ao banheiro com mais assiduidade. Isso se deve a razões fisiológicas, como os ciclos hormonais que nos transformam regularmente em esponjas que edemaciam e esvaziam. Também o fazemos em bando: quando precisamos confidenciar, a deixa é “vou ao banheiro”, ao que a(s) amiga(s) acrescenta(m) “vou contigo”.

A logística banheirística feminina é mais complexa. É necessário literalmente desmontar-se, remover meias (que costumam romper-se), suspender saias e vestidos, tirar calças e roupa íntima. Além disso, temos de sentar, ou, pior, não sentar. Desafiaria muitos homens a urinarem semiagachados, com as roupas arriadas, cuidando para que nem o corpo, nem as vestes que seguramos com as mãos toquem na sujeira do chão ou da privada. 

Devia ser uma modalidade olímpica. Há o necessário papel higiênico, que eles raramente usam, o qual deve ser depositado num cesto nojento cujo conteúdo ameaça desabar sobre a equilibrista. Sem contar com os trâmites da menstruação, que tornam tudo isso muito mais demorado e complicado. Por último, resta nossa eterna insegurança, que nos leva a consultar o espelho e retocar a maquiagem como se nosso rosto tivesse fugido enquanto não o estávamos vendo.

A pergunta é: por que os arquitetos e engenheiros, especialmente as profissionais mulheres, continuam planejando banheiros simétricos? Queremos igualdade, sim, de salários e oportunidades, mas, relativo aos banheiros, a merecida consideração reside em levar em conta as diferenças, construindo banheiros maiores para as mulheres. Sinceramente, quando fico numa fila de banheiro feminino, sinto como se, de alguma forma, fôssemos punidas por querermos ter uma vida pública. Pediram igualdade? Então, tomem!

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