MAURICIO
STYCER
Em causa própria
É incômodo
ter que ver apresentadores usando a TV para turbinar carreira política ou interesses
comerciais
Graças
À sua atividade como jornalista na área de defesa do consumidor, Celso
Russomanno conquistou notoriedade suficiente para dar início a uma carreira política.
Nos últimos anos, a relação entre essas duas atividades se tornou explícita,
uma alimentando a outra.
Depois
de ser derrotado na eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2012, Russomanno
trocou um programa local por um nacional na Record. Por quase dois anos, então,
entrou de segunda a sexta na casa dos espectadores vespertinos da emissora. Foi
eleito o deputado federal mais votado do Brasil em 2014.
Concluída
a eleição deste ano, Russomanno reocupou seu lugar no "Programa da Tarde".
Com uma agenda política clara, ele já explicitou que, entre os seus objetivos,
está o de voltar a disputar o governo municipal de São Paulo em 2016.
Não
aprecio o tom muitas vezes autoritário que o jornalista usa para cobrar satisfações
de quem supostamente lesou o consumidor. A postura de "justiceiro" provoca
ainda mais incômodo quando o "xerife" questiona serviços públicos
ineficientes, municipais ou estaduais. Como distinguir, nestas horas, o que é defesa
do consumidor de campanha política?
Como
outros comunicadores com carreira política, Russomanno respeita a legislação,
afastando-se da TV dentro dos prazos fixados para quem vai disputar eleições. A
questão que se coloca é se a legislação não deveria ser revista, de forma a
limitar mais o uso dos meios de comunicação por quem vive esta dupla jornada,
entre a televisão e os palanques.
Falando
em uso da televisão em benefício próprio, não posso deixar de registrar dois
casos recentes em que a Globo serviu de forma inusitada como plataforma para
divulgação de produtos de artistas da casa.
No último
domingo (2), Regina Casé informou ao público que o tema do seu programa, o "Esquenta",
seria a China. A escolha foi um pretexto para falar de "Made in China",
comédia coproduzida pela Globo Filmes.
Não é
a primeira vez que o programa promove atrações da Globo. A novidade, neste
caso, é que o filme é dirigido pelo marido de Regina Casé, Estevão Ciavatta, e
conta com a própria apresentadora no elenco.
Regina
não escondeu do público a sua ligação com o diretor e o filme. A transparência,
ainda assim, não foi capaz de diminuir o incômodo pela falta de cerimônia com
que ocupou o auditório do seu programa para defender interesses privados.
A
situação lembra outra, que ocorre na novela "Império". A atriz Letícia
Birkheuer interpreta uma jornalista, Érika, assistente do blogueiro Téo Pereira
(Paulo Betti). A personagem começou a chamar a atenção por frequentemente
aparecer com modelos diferentes de óculos.
Letícia
não precisa de óculos, mas sugeriu à figurinista da Globo adicionar o acessório
a sua personagem. "Foi mais ou menos uma ideia minha e do figurino também.
Eu achei que ia dar um ar mais sério para a Érika se ela usasse óculos. Aí, a
figurinista gostou e todo mundo amou no final. Foi ótimo", explicou ao
site da emissora.
O
detalhe é que os óculos são de uma linha que leva o nome da própria atriz. Ou
seja, com o consentimento da emissora, ela está desfilando produtos da sua
marca.
mauriciostycer@gmail.com
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