quarta-feira, 19 de novembro de 2014


19 de novembro de 2014 | N° 17988
FÁBIO PRIKLADNICKI

RESENHA NEGATIVA

O pianista clássico croata Dejan Lazic está em uma situação, no mínimo, curiosa. Quando procura seu próprio nome no Google, uma resenha negativa que a crítica Anne Midgette escreveu no Washington Post há quatro anos, sobre um recital seu, aparece entre os 10 primeiros resultados. O músico acha que é um péssimo cartão de visitas.

A crítica não é devastadora, mas tampouco entusiasmada. “Não é que Lazic não seja sensível – ou profundamente talentoso”, escreveu Anne em 2010. “Logo, no entanto, toda a finesse começou a parecer um fim em si mesmo”. A resenhista ficou incomodada com o gestual grandiloquente que observou no pianista. Os bons momentos do recital, para ela, não passaram de... bons momentos.

Desgostoso com essa mácula no Google durante anos, Lazic decidiu enviar uma carta ao Washington Post, no final de outubro, para pedir que o texto seja retirado do ar. Foi sua vez de criticar a crítica, a qual julgou “desinformada”, “parcial” e “altamente emocional”.

Bem, o Post não arredou o pé. Em sua resposta, também publicada no jornal, Anne declarou: “Escrevo para o público, não para o artista, e sempre estimulo os artistas a fazerem o possível para não ler resenhas”.


É interessante o argumento de Lazic segundo o qual o texto de 2010 não precise estar entre os primeiros resultados do Google. Mas não há nada que o Post possa fazer. Despublicar o texto seria como apagar a história. A questão é, provavelmente, o algoritmo do Google. Mas, com essa polêmica, a resenha voltou a ser lida e deve permanecer relevante na máquina de procura. Pior: agora os primeiros resultados sobre o pianista contêm matérias sobre o pedido de retirada do texto do ar.

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