19
de novembro de 2014 | N° 17988
FÁBIO
PRIKLADNICKI
RESENHA NEGATIVA
O
pianista clássico croata Dejan Lazic está em uma situação, no mínimo, curiosa. Quando
procura seu próprio nome no Google, uma resenha negativa que a crítica Anne
Midgette escreveu no Washington Post há quatro anos, sobre um recital seu,
aparece entre os 10 primeiros resultados. O músico acha que é um péssimo cartão
de visitas.
A crítica
não é devastadora, mas tampouco entusiasmada. “Não é que Lazic não seja sensível
– ou profundamente talentoso”, escreveu Anne em 2010. “Logo, no entanto, toda a
finesse começou a parecer um fim em si mesmo”. A resenhista ficou incomodada
com o gestual grandiloquente que observou no pianista. Os bons momentos do
recital, para ela, não passaram de... bons momentos.
Desgostoso
com essa mácula no Google durante anos, Lazic decidiu enviar uma carta ao
Washington Post, no final de outubro, para pedir que o texto seja retirado do
ar. Foi sua vez de criticar a crítica, a qual julgou “desinformada”, “parcial” e
“altamente emocional”.
Bem,
o Post não arredou o pé. Em sua resposta, também publicada no jornal, Anne
declarou: “Escrevo para o público, não para o artista, e sempre estimulo os
artistas a fazerem o possível para não ler resenhas”.
É interessante
o argumento de Lazic segundo o qual o texto de 2010 não precise estar entre os
primeiros resultados do Google. Mas não há nada que o Post possa fazer. Despublicar
o texto seria como apagar a história. A questão é, provavelmente, o algoritmo
do Google. Mas, com essa polêmica, a resenha voltou a ser lida e deve
permanecer relevante na máquina de procura. Pior: agora os primeiros resultados
sobre o pianista contêm matérias sobre o pedido de retirada do texto do ar.
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