MAURICIO
STYCER
Agitação na madrugada
Novo
jornalístico da Globo às 5h e apostas noturnas do SBT tentam estender a vida útil
da televisão
A
maioria dos leitores possivelmente não vai assistir, mas a estreia de um novo
jornalístico, às 5h, nesta segunda-feira (1º), diz muito a respeito das
transformações pelas quais a televisão aberta está passando no Brasil.
Até a
última sexta-feira, a Globo começava o seu dia às 6h, com o "Globo Rural".
Era seguido pelo "Bom Dia", às 6h30, emendando com o "Bom Dia
Brasil", que terminava às 8h40.
Com "Hora
Um", apresentado por Monalisa Perrone, a emissora altera drasticamente a
sua grade matinal. Além do novo noticiário, com uma hora de duração, os outros
dois jornalísticos ganham 30 minutos a mais cada um, criando uma faixa de
programas noticiosos das 5h às 9h. O "Globo Rural" deixa de ir ao ar
durante a semana.
A
emissora justifica a mudança sob o argumento de que precisa "atender a um
público que cada vez acorda mais cedo para trabalhar". É possível imaginar
que há mais fatores em jogo.
Em
primeiro lugar, mostra uma reação da Globo à concorrência. Tanto SBT quanto
Record têm jornalísticos que começam às 6h. O "Notícias da Manhã", da
emissora de Silvio Santos, muita vezes supera o "Globo Rural" em matéria
de ibope.
E,
ainda que o valor comercial do horário seja baixo, comparado a outros, parece
claro, diante do movimento aparentemente irreversível de esvaziamento da audiência
da TV aberta, que qualquer fiapo de oportunidade deve ser aproveitado.
O
SBT tem mostrado isso em outra ponta antes pouco valorizada da grade --o início
da madrugada. Depois de muito tempo em terceiro lugar na média geral de audiência,
a emissora conseguiu superar a Record nos últimos meses, ajudada, em parte, por
seu desempenho em horários tardios.
Principal
novidade do SBT em 2014, o "The Noite", com Danilo Gentili, não
apenas levantou o ibope do horário como atraiu interesse comercial.
A
agitação na madrugada, tanto em uma ponta (o fim de noite) quanto em outra (o
início da manhã), coloca pimenta em uma discussão interessante.
A
Record defende que o filé-mignon da TV, para anunciantes, se concentra entre 7h
e meia-noite. Assim, analisando os dados de audiência deste período, proclama
ser a vice-líder do mercado.
O
argumento ignora o fato de que a emissora exibe diariamente, da 1h15 às 6h,
programação paga da Igreja Universal, o que derruba drasticamente a sua audiência
no período.
No início
de outubro, entrevistei José Roberto Maciel, vice-presidente-executivo do SBT. Exibindo
números de audiência e de faturamento publicitário crescentes, ele disse ao UOL
que ignorar a madrugada "cria uma falsa percepção no mercado".
Dados
do Ibope para a Grande São Paulo (cada ponto equivale a 65 mil domicílios), em
outubro, mostram que da 0h às 6h a Globo teve média de 5,1 pontos, seguida por
SBT (3,7), Record (1,4) e Band (0,9).
Os
investimentos para alcançar o público da madrugada e ampliar o mercado do horário
são movimentos que, se submetidos à fria análise dos números, talvez não se
justifiquem. Mas são mais um indicativo de que a TV aberta segue firme na luta
contra os que enxergam o seu fim próximo.
mauriciostycer@uol.com.br
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