24
de novembro de 2014 | N° 17993
L.
F. VERISSIMO
Céus!
Essa
lambança da Petrobras com as empreiteiras e suas possíveis últimas
consequências na economia e na própria história do país me lembrou o caso do
amante no armário.
Pois
diz que a mulher estava na cama com o amante quando ouviu o ruído do marido que
chegava de São Paulo. Ele tinha tomado um voo mais cedo da ponte aérea e, como
se sabe, voos adiantados da ponte aérea são as principais causas de flagrantes
de adultério no Rio.
–
Céus, meu marido! – disse a mulher.
– O
quê?! – O armário, rápido! – Mas...
–
Entre no armário! Entre no armário!
O
amante entrou no armário segundos antes de o marido entrar no quarto. E
perguntar:
–
Com quem você estava falando? – Por que você chegou mais cedo?
– Eu
ouvi vozes aqui dentro. – Era a televisão.
–
Nós não temos televisão no quarto.
–
Não mude de assunto. Por que você chegou tão cedo?
Mas
o marido já se dirigia para o armário, que tremia. Abriu a porta do armário e
deu de cara com o amante. Durante quase um minuto, nenhum dos dois falou.
Ficaram se encarando em silêncio até que o marido disse:
–
Vou ter que bater em você.
– Eu
entendo, mas pense bem no que vai fazer – disse o amante. – Você pode machucar
suas mãos. Ou eu posso reagir e bater em você também. Aí, seria uma briga feia
e nós dois nos machucaríamos. Acabaríamos num hospital. E pior seria o
ridículo. Amante dentro do armário. Marido descobre. Mulher grita “céus!”. Uma
cena de comédia pastelão de péssimo gosto. De quinta categoria. O que você me
diz?
–
É... – disse o marido, indeciso.
–
Nós queremos isso? Não queremos. Outra coisa: você vai ter que pedir divórcio. Pense
na incomodação. Nos custos. Advogados etc. E na repercussão. Vão acabar
descobrindo que a separação se deu porque você foi corneado. Isso sem falar nos
traumas para as duas famílias, a sua e a dela. E, pensando bem, você é o
culpado por esta situação. Tinha que voltar de São Paulo mais cedo?
– O
que você sugere que se faça?
–
Faz de conta que isto nunca aconteceu. Eu não estou aqui. Você chegou de São
Paulo mais cedo e sua mulherzinha o esperava na cama. Tudo em paz. Tudo normal.
Estaremos evitando o ridículo e salvando um casamento. E ninguém vai ficar
sabendo!
Combinaram
que o amante recolheria sua roupa, seus sapatos e iria embora.
Antes
de sair do quarto, o amante ainda ouviu o marido dizer:
–
Brigadão, hein?
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