11
de novembro de 2014 | N° 17980
LUIZ
PAULO VASCONCELLOS
A FICÇÃO QUE VIRA
REALIDADE
Orson
Welles foi um dos maiores atores do cinema americano. E, não bastasse isso, foi
também um dos seus melhores diretores. Cidadão Kane que o diga. E foi ele
também o autor de uma das mais revolucionárias brincadeiras mesclando realidade
e ficção que o mundo já vivenciou: a transmissão, pela rádio CBS, de A Guerra
dos Mundos, do escritor H. G. Wells, na noite de 30 de outubro de 1938, data da
tradicional festa do Halloween.
A
peculiaridade dessa transmissão foi apresentar o romance como sendo realidade,
os ouvintes recebendo em casa as informações como se os fatos estivessem
acontecendo ali na esquina. O problema é que o romance de Wells trata de uma
invasão de marcianos ocorrida perto da cidade de Nova York.
Após
a previsão do tempo, o locutor – o próprio Orson Welles – anunciou que um
meteoro gigantesco acabara de cair em Nova Jersey. A música voltou a tocar até
ser interrompida novamente por uma entrevista sobre a origem dos meteoros. Num
dado momento, o repórter passou a descrever seres extraterrestres dotados de
grandes tentáculos que começavam a sair de uma nave. Seguiram-se, então,
informações sobre o enfrentamento com a polícia e o anúncio das primeiras
mortes.
Enquanto
o programa era apresentado, no plano da realidade instalava-se um verdadeiro
caos, muito mais terrível do que o ficcional – postos de polícia, redação de
jornais e hospitais sendo invadidos por multidões de pessoas alarmadas,
buscando informações e proteção. Quarenta minutos depois, no intervalo do
programa, o locutor anunciou: “Vocês acabaram de ouvir a primeira parte de uma
radiofonização de Orson Welles do romance A Guerra dos Mundos, do escritor
inglês H. G. Wells”.
Essa
experiência mudou o mundo. O rádio era, na época, o mais popular meio de
comunicação existente e, a partir daí, comprovou-se a tese já afirmada pela
Alemanha nazista, sobre o poder dos meios de comunicação. O que tinha sido
apenas uma bem-humorada celebração do Halloween acabou se transformando num
marco histórico do poder de um meio de comunicação de massa.
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