14
de novembro de 2014 | N° 17983
LÁGRIMAS
AMARGAS
Elegia para Fassbinder
Com
estreia hoje, peça desconstrói a vida e a obra do cineasta alemão
Há
10 anos, o diretor de teatro Clóvis Massa tomou conhecimento da peça Gotas
dÁgua em Pedras Escaldantes, que o diretor de cinema e teatro alemão Rainer
Werner Fassbinder (1945 1982) havia escrito ainda na juventude. Massa gostou
tanto do texto adaptado para o cinema por François Ozon em 2000 que o traduziu
para o português a partir de uma edição francesa. Sua ideia era fazer uma
montagem brasileira, mas o projeto evoluiu quando se aprofundou em leituras
sobre a biografia de Fassbinder. Daí veio a ideia: misturar vida e obra para
contar a história do genial e polêmico criador, de quem se sabe que costumava
tiranizar os atores de suas produções.
Foi
em 2013 que o projeto tomou forma. Na ocasião, Massa encontrou outro aficionado
pelo alemão: o dramaturgo Diones Camargo, que coincidentemente já havia
realizado uma extensa pesquisa sobre o tema. Juntos, criaram a peça Fassbinder
– O Pior Tirano É o Amor, que estreia hoje, às 20h, na Sala Álvaro Moreyra, em
Porto Alegre.
O
espetáculo mostra três momentos na vida de Fassbinder, que é representado por
diferentes atores: o início ainda como diretor de teatro (interpretado pelo
ator Luciano Pieper), a consolidação no cinema como realizador de obras-primas
como As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (fase vivida por Frederico Vittola)
e, finalmente, a etapa derradeira da vida e a morte prematura aos 37 anos
(encarnado por Marcos Contreras). Completam o elenco Martina Fröhlich, Renata de
Lélis, Rodrigo Shalako e Viviana Schames. Embora não configure um musical, a
peça tem canções de Cláudio Levitan e da filha Carina Levitan.
–
Quando tomamos contato com a biografia e com a obra do Fassbinder, percebemos
que não há limite entre uma e outra. As personagens do filme As Lágrimas
Amargas... têm um relacionamento igual ao que Fassbinder mantinha com seu
amante. A forma como ocorreram as separações em ambos os casos é semelhante –
compara Massa.
Diones
Camargo criou o roteiro a partir de duas biografias, entrevistas e trechos de
filmes e peças de Fassbinder. Diones é experiente em espetáculos sobre grandes
criadores: já escreveu peças sobre Andy Warhol (Andy/Edie, encenada em 2006) e
Nelson Rodrigues (Os Plagiários, de 2012).
–
Quando Clóvis me convidou para o projeto, no ano passado, eu estava envolvido
com o roteiro de um longa. Enquanto terminava aquele trabalho, revi muitos
filmes do Fassbinder e assisti pela primeira vez a outros. Depois, acompanhei
improvisações que o Clóvis e o elenco haviam criado, mas me afastei para
escrever. Uns 80% da peça foram feitos separadamente do grupo – conta Diones.
É
uma hora propícia para redescobrir Fassbinder no Brasil. No início do segundo
semestre, o diretor Rafael Gomes apresentou, em São Paulo, a peça Gotas d’Água
sobre Pedras Escaldantes.
marcelo.perrone@zerohora.com.br
fabio.pri@zerohora.com.br
MARCELO
PERRONE FÁBIO PRIKLADNICKI
FASSBINDER
O PIOR TIRANO É O AMOR
FILMES
FUNDAMENTAIS DE FASSBINDER
-O
Desespero de Veronika Voss (1982)
Fassbinder
retoma seu painel sobre o estado das coisas na Alemanha pós-II Guerra. Nos anos
1950, uma decadente estrela de cinema conhece jornalista que parece ser o único
homem não interessado em explorá-la, como faz seu médico.
-Lili
Marlene (1981)
Famosa
cantora da Alemanha nazista vive romance proibido com um judeu e cai em
desgraça ao final da guerra sob acusação de colaboracionismo.
-Berlin
Alexanderplatz (1980)
Obra-monumento
de Fassbinder. Realizada para a TV, descreve em 14 episódios, por meio da
jornada de um homem que acaba de sair da prisão, o ambiente de tensionamento da
Alemanha nos anos 1920, assolada pela crise econômica e germinando as condições
para a ascensão de Hitler ao poder.
-O
Casamento de Maria Braun (1979)
Um
dos títulos mais populares do diretor. A história tem início no final da
II
Guerra e segue até os anos 1950. Acreditando que o marido, militar nazista,
morreu em combate, mulher se envolve com soldado americano.
-O
Medo Devora a Alma (1974)
Depois
de um começo de carreira influenciado pela nouvelle vague, Fassbinder se volta
ao melodrama, assumidamente inspirado em Douglas Sirk – em particular, no filme
Tudo que o Céu Permite (1955). Viúva branca de
classe
média enfrenta o preconceito da sociedade ao se envolver com imigrante africano
negro.
Direção
de Clóvis Massa.
Texto
de Diones Camargo.
Estreia
hoje, às 20h. De sextas a domingos, sempre às 20h. Temporada até 30 de
novembro. Classificação: 16 anos. Duração: 90 minutos.
Sala
Álvaro Moreyra (Erico Verissimo, 307), fone (51) 3289-8000, na Capital.
Ingressos:
R$ 20 (desconto de 50% para estudantes, idosos e classe artística). À venda no
teatro, uma hora antes de cada sessão.
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