CLÓVIS
ROSSI
Um começo bem medíocre
Nova
equipe liga o piloto automático em vez de pensar nas ideias novas prometidas na
campanha
Não
poderia ser mais medíocre o primeiro ato do segundo mandato de Dilma Rousseff.
Primeiro
porque ela própria nem se dignou a aparecer na apresentação em sociedade de sua
nova equipe econômica.
Se
eu não fosse inimigo número um de teorias conspiratórias, até diria que a
indicação não foi dela.
Por
isso, preferiu ficar em algum gabinete palaciano (ou em alguma masmorra, se me
mantivesse na teoria conspiratória) em vez de endossar com a presença o novo
duo (o terceiro, Alexandre Tombini, não é novo; continua na função de
presidente do Banco Central).
É ridículo.
Se a candidata dizia, durante a campanha, que a governo novo correspondem
ideias novas, o primeiro ato teria que ser, obrigatoriamente, o enunciado das
tais novas ideias, no pressuposto de que elas de fato existam.
Medíocre
também foi o anúncio de que a prioridade do novo/velho governo será obter um
superavit fiscal. Dou o devido desconto ao fato de que não cabia mesmo a
Joaquim Levy/Nelson Barbosa/Tombini anunciar ideias novas que fossem além da
economia.
Essa
era a tarefa inalienável da presidente.
Ainda
assim, há alguém aí que acredita que o Brasil terá todos os seus problemas
resolvidos graças à prioridade concedida ao superavit fiscal anunciado?
Levy
fez apenas o papel para o qual foi convocado, o de falar aos agentes de
mercado, que, de resto, nem sequer foram eleitores de Dilma. Nem pensar em
falar aos eleitores da própria presidente e ao público em geral, que não fazem
parte do que os argentinos gostam de chamar de "patria financiera".
É a
fala de um burocrata, quando a estagnação em que se encontra a pátria --e não
apenas na economia, mas também em educação, saúde, mobilidade urbana, segurança
pública, infraestrutura e um vasto etc.-- exige um estadista.
O
novo governo mostrou-se refém dos detentores dos papéis da dívida pública. São
eles que exigem um superavit fiscal que permita continuar tratando a dívida
como algo sagrado que não se pode tocar.
Não,
caro ortodoxo aí no sofá, não estou pregando o calote, embora ache que, se
empresas e indivíduos podem renegociar suas dívidas, por que o governo não
pode?
O
que estou defendendo é que pelo menos se pense nas tais "ideias novas"
do slogan de campanha.
Ideias,
como, por exemplo, uma taxação excepcional sobre o patrimônio, cujo resultado
seria dedicado a eliminar ou reduzir a dívida pública. É a proposta de Thomas
Piketty, a nova estrela da economia mundial, em seu livro "O Capital no Século
21".
Manter
o piloto automático (aumentar ou manter o superavit primário para pagar a dívida)
é condenar o país à mediocridade por sabe-se lá quanto tempo.
Até a
"Economist", a revista que pediu a cabeça de Guido Mantega e saudou,
com muitas ressalvas, a escolha da nova equipe econômica, diz que "o
crescimento [da economia] cairá a princípio e pode não se recuperar por um ano
ou dois".
Você
acha que o país está em condições de jogar fora nem que seja apenas um ano?
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