sábado, 8 de novembro de 2014


08 de novembro de 2014 | N° 17977
NÍLSON SOUZA

A LETRA E O PONTO

Escrevo todos os dias. E nunca é fácil. Mas é, quase sempre, prazeroso e compensador. Meu consolo, quando estou diante de um espaço em branco para preencher – como estarão amanhã milhares de jovens na prova de redação do Enem, aos quais dedico esta crônica –, é saber que os grandes escritores também sofrem para juntar as letrinhas e dar o seu recado. Alguns exemplos:

Thomas Mann, o monumental autor de Morte em Veneza, admitiu: “O escritor é um homem que mais do que qualquer outro tem dificuldade para escrever”.

Goethe, criador de Fausto e outras obras-primas da literatura alemã, foi na mesma linha: “Escrever é um ócio muito trabalhoso”.

E vejam só a confissão do grande cronista Fernando Sabino, que nos legou obras como O Encontro Marcado e O Grande Mentecapto: “Para mim, o ato de escrever é muito difícil e penoso, tenho sempre de corrigir e reescrever várias vezes”.

O mesmo desconforto foi manifestado pela belga Marguerite Yourcenar, aquela do quilométrico Memórias de Adriano: “Não tenho facilidade de escrever. Jamais consigo expressar-me como teria desejado. Escrever é uma múltipla escolha entre mil expressões das quais nenhuma me satisfaz”.

Até a blogueira misteriosa Verônica H, que escreve anonimamente muito bem, adverte: “Não sangra nem deixa marcas, mas escrever dói. Dói como a saudade do que não acontece, porque exterioriza sentimentos que eu escondo até de mim”.

Quem escreve, porém, tem pouca margem para o anonimato, garante o poeta Mario Quintana, o nosso alegretense de Sapato Florido e Rua dos Cataventos: “Nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão”.

Confesse, jovem candidato, você já leu algum desses autores?

Se leu, sua redação talvez saia mais fácil. Se não leu, ainda assim pode escrever um texto satisfatório. Todos podemos, basta nos prepararmos para a tarefa e acreditar que somos capazes.

Duvida? Olhe só este conselho do chileno Pablo Neruda, autor de Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada, além de dezenas de outras maravilhas: “Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias”.


Portanto, não se desespere. Escolha a letra maiúscula e mãos à obra. Boa redação.

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