23
de novembro de 2014 | N° 17992
L.
F. VERISSIMO
As peladas de Porto
Alegre
Em
1986, passamos quase um ano em Roma. A família toda. Minha mulher ficou
conhecida na região em que morávamos – Monteverde Nuovo – porque era da cidade
do Falcão, que pouco tempo antes tinha levado o Roma a ganhar o campeonato
italiano, um título que perseguia havia anos. Só por vir de Porto Alegre, de
onde também viera “il divino Paulo Roberto”, a Lucia tinha atenção especial no
açougue, na feira e no resto do comércio do bairro. Porto Alegre era conhecida
em todo o mundo – bem, pelo menos o mundo do futebol – graças ao Falcão. A quem
devemos (e ele nem sabe) boa parte do prazer da nossa temporada romana.
A
cidade voltou a ser reconhecida internacionalmente pelo Fórum Social Mundial.
Era raro você mencionar, na Europa, que era de Porto Alegre sem que o Fórum
fosse lembrado, e identificado como o que foi nas suas várias edições na
cidade, um congresso dos excluídos, o oposto do Fórum dos cachorros grandes de
Davos. E o reconhecimento não era só de quem lia jornal. Era do jornaleiro
também.
E,
agora, depois do Falcão e do Fórum Social, voltamos ao noticiário mundial com
as peladas. Até o momento, se não perdi a conta, quatro mulheres nuas e um
travesti também nu passaram correndo por fotógrafos que, a julgar pelas fotos
tiradas, não foram rápidos o bastante: só se veem as peladas de costas, depois
que passaram. Ainda não se viu uma de frente.
Talvez
todas sejam uma só, pela bunda em trânsito fica difícil dizer. Especulações
sobre a origem e os objetivos das peladas se espalham pelo mundo. Haveria
alguma mensagem subliminar na sua galopante nudez? Seria um protesto contra o
preço da roupa? Uma manifestação de liberdade contra convenções repressivas e a
moral burguesa?
Ou
apenas uma celebração da primavera, e um prenúncio do que nos espera com o
aquecimento global? É provável que o número de peladas se multiplique com a
chegada do verão. O que só aumentará o mistério – quem são elas, de onde vêm, o
que querem, por que só são vistas de costas, onde carregam o dinheiro pra
comprar um picolé? – e, claro, a atenção do mundo. Além do nosso orgulho
municipal.
SAUDADE
Da
série “Poesia numa hora destas?!”:
Ai
que saudade...
do
tijolinho de banana
do
meu Autorama
do
Cinerama
do
Mario Quintana
e da
Petrobras pré-lama.
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