quinta-feira, 20 de novembro de 2014


20 de novembro de 2014 | N° 17989
L.F. VERISSIMO

Velhos hábitos

Esta o Pero Vaz de Caminha não contou. Os portugueses tiveram alguma dificuldade para se comunicar com os indígenas, na sua chegada ao Brasil. Um dos comentários ouvidos na praia, logo depois do descobrimento, foi:

– Ou estes gajos não sabem falar português, ou estiveram no dentista há pouco e ainda sentem os efeitos da anestesia, pá. Não se percebe nada do que dizem!

Tenta daqui, tenta dali e finalmente se entenderam. Cabral, comandante da expedição portuguesa, deveria falar com o cacique Tamosaí, aparentemente o comandante dos índios. A conversa – feita mais com mímica e linguagem de surdo-mudo do que com palavras – foi mais ou menos assim:

TAMOSAÍ – O que homens esquisitos, brancos e com barba, querem?

CABRAL – Tudo. TAMOSAÍ – Como, tudo? CABRAL – Tudo. Do Oiapoque ao Chuí. E então? TAMOSAÍ – Hmmm. O.k. Mas antes... E Tamosaí estendeu a mão com a palma virada para cima e disse:

– Molha.

– Ai, Jesus – suspirou Cabral. – Começou...

A história da propina no Brasil talvez não seja tão antiga, mas o costume já tem uma longa biografia. Assim como o poder das empreiteiras, cuja origem é difícil de localizar no tempo. Talvez tenha começado com o nosso protoempreendedor Barão de Mauá.

Certamente se consolidou com o furor desenvolvimentista da era Juscelino. Novidade mesmo é as empreiteiras obrigadas a explicar seus velhos hábitos, nunca dantes questionados, e seus diretores estarem dormindo em colchões no duro chão de uma cadeia. No fim, quem tem razão para festejar é o senador Pedro Simon. Há anos sua insistência para que os corruptores sejam incluídos na investigação e punição da corrupção é ignorada no Congresso. No fim da sua vida pública, veio o desagravo.

PAPO VOVÔ 1

Nossa neta de seis anos chegou em casa com uma novidade: havia um bicicopata na sua escola. Depois tudo se esclareceu, era só uma palavra que ela tinha ouvido e guardado. Mas por momentos nos preocupamos com a possibilidade de haver, entre os colegas da Lucinda, um psicopata de bicicleta.

PAPO VOVÔ 2

Esta é de um neto alheio, filho de um amigo e grande músico, Luiz Mauro Filho. Também de seis anos. Sua perfeita definição de sonho: sonho é uma coisa que quando a gente acorda diz “Ué...”.



20 de novembro de 2014 | N° 17989
DE FORA DA ÁREA | Adão Júnior

SELEÇÃO GAÚCHA, UM NOVO PROJETO

Quando se fala em seleção gaúcha, logo vem à mente aquele empate emblemático de 3 a 3 entre o selecionado do Rio Grande do Sul e a Seleção Brasileira, dia 17 de junho de 1972, no Estádio Beira-Rio, com 106 mil torcedores. Era o duelo de um Estado contra sua Nação, em resposta à não convocação do tricampeão mundial Everaldo pelo técnico Zagallo.

E assim, um combinado de jogadores da dupla Gre-Nal, entre eles Espinosa, Ancheta, Figueroa, Everaldo, Valdomiro e Claudiomiro, desafiou os canarinhos Leão, Piazza, Rivelino e Jairzinho. Um jogaço de seis gols e muita rivalidade. Seis anos depois, em 1978, uma segunda edição do confronto, menos tumultuado, mas igualmente disputado no mesmo Beira-Rio. Outro empate: 2 a 2, com a presença de Oberdan, Jorge Tabajara, Caçapava, Falcão, Tarciso e Éder, pelos gaúchos, e Nelinho, Batista, Toninho Cerezo e Roberto Dinamite, pela equipe nacional.

Antes disso, a seleção gaúcha já vinha participando de amistosos desde 1943 e até disputado o Pan-Americano de 1956 representando o Brasil. A última aparição foi em 1983. Depois disso, apenas formações de base em amistosos, principalmente contra o Uruguai. E é nessa batida de categoria de base que a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) quer retomar a mística do uniforme verde, amarelo e vermelho.

O novo projeto, coordenado por César Cabral, da FGF, e pelo técnico especialista em base Julinho Camargo, resgatou a força dos gaúchos em um dos mais lendários estádios da América, o Centenário de Montevidéu. No dia 13 de novembro, a seleção gaúcha sub-19, com atletas de Grêmio, Juventude, Lajeadense, Cruzeiro-PoA, Aimoré, Pelotas, Esportivo e Veranópolis (São José-PoA e Inter não cederam atletas), venceu o Uruguai sub-20 por 2 a 1 dentro da casa deles, na preliminar do amistoso Fifa entre Uruguai e Costa Rica.


Em dezembro, os uruguaios, que se preparam para sediar o Sul-Americano sub-20, querem a revanche em Porto Alegre. E, em 2015, a seleção gaúcha tem programada uma excursão à Europa. A ideia é fortalecer o futebol gaúcho e revelar ao mundo os novos talentos da terra que consagrou Everaldo, Paulo Roberto Falcão, Carpegiani, Renato Gaúcho e o técnico pentacampeão mundial Luiz Felipe Scolari, entre dezenas de outros profissionais.

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