quarta-feira, 12 de novembro de 2014


12 de novembro de 2014 | N° 17981
PAULO SANT’ANA

A crença e a razão

A maior parte das encrencas que temos na vida se origina ou no fato de que subestimamos a nós mesmos, ou então nos superestimamos.

Por sinal, sabedoria não é outra coisa senão conhecer-nos a nós próprios.

Minha vida tem sido torta, e só agora fiquei sabendo por que isto está me sucedendo.

É que ando me alimentando exclusivamente de tortas doces de todos os tipos e de torta fria, evidentemente salgada.

É torta para lá e torta para cá. Não há quem não entorte.

Deus tem e teve inúmeras denominações. Chamou-se ou chama-se Jeová, Adonai, El Shaday, El Elah, El Olam, Alá...

Em todos os casos, concertou-se que Deus é uma entidade abstrata que criou os planetas e os homens e os administra com sua sabedoria e poder supremos.

Mas, nesses meandros da teologia, apareceu uma encrenca: o Bem e o Mal. E como pode então Deus administrar o Mal? Tudo de mau que é feito no mundo é administrado por Deus?

Foi então que, para salvar (ou solver) esse enigma, surgiu a teoria do livre-arbítrio. Ou seja, o homem é livre para tomar todas as suas atitudes, sejam elas marcadas pelo Bem ou pelo Mal.

Por essa teoria, tira-se de Deus a responsabilidade de administrar o Mal e se a transfere para os homens: eles é que praticarão o Bem ou o Mal a seu talante.

Tenho estudado muito isso e refletido exaustivamente sobre essa questão.

Mas, nos meandros da teologia, me surge uma dúvida: e os desastres naturais são de responsabilidade de Deus? As tempestades, os furacões, os terremotos, os cataclismos, essas desgraças todas provêm de Deus?

Dos homens, é que não provêm teoricamente. Mas como teremos o topete de declarar que são obras de Deus?

O poeta Guerra Junqueiro diz que “existe um ímã, Deus, oculto no infinito/ e que tem dois polos a alma/ a crença e a razão/ a crença é o luar da nossa intuição/ onde a razão acaba, a crença principia”.

Que bonito isto: “Onde a razão acaba, a crença principia”.

O que Guerra Junqueiro quis dizer é que a crença, a religião, são obras da carência intelectual do homem.

E que o homem só pode adorar a quem não conhece.


Calma lá, mas Guerra Junqueiro era tido como incréu ou até herege.

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