11
de novembro de 2014 | N° 17980
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Tropa de Elite
As
mulheres demonstram o amor entre si de um modo óbvio.
Elas
se abraçam, andam de mãos dadas, oferecem colo, acariciam os cabelos, sem
conotação sexual.
Amigas
confessam seus cuidados sem meio-termo. Há o toque, o aconchego, o abraço longo
e apertado.
Elas
se aninham e se embalam no reencontro mais banal.
São
catárticas, choram, não medem as palavras de ternura.
Celebram
a cumplicidade: dançam juntas, realizam mímicas, cobram juras, dividem
drinques, emprestam cartões de crédito.
Já
os homens entre si são toscos. Quando se amam dentro da amizade, não se
comunicam diretamente. Não descarregam declarações.
Eles
se escondem na timidez, receiam o vexame, tensos e reprimidos.
O
cumprimento é gritado e rouco, o abraço é quase um empurrão. E ainda por cima é
bem possível receber uma saraivada de socos nas costas. Meninos crescidos que
continuam a trocar esbarrões e safanões para justificar o contato físico.
Amizade
masculina é desidratada, árida. Amizade masculina é corredor polonês, é xingão,
é cascudo, é luta livre.
O
reconhecimento de importância é feito mais pela piada do que pelo elogio. A
saudade é fundamentada pela grosseria. Não espere carícias e prefácios.
O
hábito é falar mal para dizer que se gosta.
–
Seu otário, onde você andou que não responde a minhas ligações?
Nada
é suave, linear, carinhoso. Homem não entra no armário nem para trocar de
roupa.
Eles
se sentem culpados por amar um outro homem e disfarçam. Têm medo de que alguém
entenda errado, que interprete como atração.
Há
um código militar do aceno e do diálogo lacônico. O que prepondera é o uivo, o
urro, a reclamação por trás das frases emocionais.
Quem
vê de fora pensa que são inimigos, são desafetos, são rivais.
–
Idiota, não consegue nem assar uma carne, jamais alguma mulher lhe dará pelota.
Até
a solidariedade vem suja, misturada de agressão.
–
Esse panaca não tem conserto! Amor para os amigos é ofendido, formado de
insultos, preconceitos e espinhos.
É
uma admiração truculenta, bélica, num idioma renhido, criado em estádios de
futebol, em churrascos, em bebedeiras.
Como
se o pior fosse o melhor, como se o contrário traduzisse o certo, como se o
avesso significasse a transparência.
Para
consagrar um eu te amo é preciso atravessar um purgatório de impropérios.
E o
engraçado é que o “Eu te amo” não é entregue ao interessado, é usado na
terceira pessoa para se diferenciar da cantada.
Aparece
dentro de um contexto, não numa conversa a sós. É, na verdade, uma apresentação
para uma plateia real ou imaginária.
– Eu
amo esse babaca! Homem mesmo só elogia, de maneira pura, a si mesmo. Sabe que
não terá ninguém mais para fazer esse trabalho.
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