sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Jaime cimenti

A grana preta oriental e o fusquinha azul do José Mujica

Nelson Rodrigues disse que o dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro. Lá em Bento Gonçalves, os gringos inteligentes sabem que com dinheiro tu fazes até um urso dançar, especialmente se o urso for de alguma cidade próxima. Dinheiro fala muito, fala alto e curava até as doenças imaginárias da minha vovó pobre, lá na Itália. Mas será que dinheiro compra tudo, mesmo? Tem coisas que não têm preço?

No filme Proposta indecente, de Adrian Lyne, de 1993, o milionário encarnado pelo então cinquentão sexy Robert Redford aproveita a pindaíba de um jovem casal e a beleza da esposa interpretada pela deusa Demi Moore, na época com trinta e um aninhos, e oferece um milhão de dólares por uma noite de amor. Ela e o marido topam, achando que o cara era meio velhinho e tal, que não daria em muita coisa. Não foi bem assim.  O resto vocês sabem.

Um milhão de dólares um xeque árabe ofereceu pelo modesto fusquinha azul 1987 de José Mujica, presidente do Uruguai. Pois é, ainda existem fios de bigode e princípios nesta terra. Mujica disse que enquanto viver não vende o besouro, símbolo maior da austeridade do presidente mais pobre do mundo. Pelo visto, nem adianta o árabe insistir ou oferecer mais. Olha que US$ 1 milhão é mais ou menos o valor do Prêmio Nobel. Na nossa poupança renderia uns R$ 125 mil por mês.

Mujica poderia ter aceitado a oferta do xeque e destinado a tremenda bufunfa aos pobres, como, aliás, ele  faz com boa parte dos salários que recebe como presidente do Uruguai. Ele preferiu ficar com o fusca azul e nos mostra que tem coisas sem valor de venda, objetos e sentimentos inseparáveis e invendáveis, como a felicidade, a honra, o amor, a saúde, o humor e a paz.

O fusca azul de Mujica deve permanecer como símbolo de austeridade, de apego a coisas simples e a princípios inarredáveis. Se o fusca do Mujica falasse, diria que está feliz em ver que o dono não o considera apenas uma lataria, dois faróis, um motor e tudo o mais que o transporta. É isso. Mujica preferiu ficar com seu brinquedo de menino e homem e com suas lembranças e deixar o milhão de verdinhas de lado.

Sinal de loucura ou de sanidade? Você decide, atento e sensível leitor. Você decide também se o dinheiro manda em ti ou se tu é que mandas no dinheiro. É tudo contigo. Mujica já decidiu.
Jaime Cimenti


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