Jaime
cimenti
A grana preta oriental e o fusquinha
azul do José Mujica
Nelson
Rodrigues disse que o dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro. Lá em Bento
Gonçalves, os gringos inteligentes sabem que com dinheiro tu fazes até um urso
dançar, especialmente se o urso for de alguma cidade próxima. Dinheiro fala
muito, fala alto e curava até as doenças imaginárias da minha vovó pobre, lá na
Itália. Mas será que dinheiro compra tudo, mesmo? Tem coisas que não têm preço?
No
filme Proposta indecente, de Adrian Lyne, de 1993, o milionário encarnado pelo
então cinquentão sexy Robert Redford aproveita a pindaíba de um jovem casal e a
beleza da esposa interpretada pela deusa Demi Moore, na época com trinta e um
aninhos, e oferece um milhão de dólares por uma noite de amor. Ela e o marido
topam, achando que o cara era meio velhinho e tal, que não daria em muita
coisa. Não foi bem assim. O resto vocês
sabem.
Um
milhão de dólares um xeque árabe ofereceu pelo modesto fusquinha azul 1987 de
José Mujica, presidente do Uruguai. Pois é, ainda existem fios de bigode e
princípios nesta terra. Mujica disse que enquanto viver não vende o besouro,
símbolo maior da austeridade do presidente mais pobre do mundo. Pelo visto, nem
adianta o árabe insistir ou oferecer mais. Olha que US$ 1 milhão é mais ou
menos o valor do Prêmio Nobel. Na nossa poupança renderia uns R$ 125 mil por
mês.
Mujica
poderia ter aceitado a oferta do xeque e destinado a tremenda bufunfa aos
pobres, como, aliás, ele faz com boa
parte dos salários que recebe como presidente do Uruguai. Ele preferiu ficar
com o fusca azul e nos mostra que tem coisas sem valor de venda, objetos e
sentimentos inseparáveis e invendáveis, como a felicidade, a honra, o amor, a
saúde, o humor e a paz.
O
fusca azul de Mujica deve permanecer como símbolo de austeridade, de apego a
coisas simples e a princípios inarredáveis. Se o fusca do Mujica falasse, diria
que está feliz em ver que o dono não o considera apenas uma lataria, dois
faróis, um motor e tudo o mais que o transporta. É isso. Mujica preferiu ficar
com seu brinquedo de menino e homem e com suas lembranças e deixar o milhão de
verdinhas de lado.
Sinal
de loucura ou de sanidade? Você decide, atento e sensível leitor. Você decide
também se o dinheiro manda em ti ou se tu é que mandas no dinheiro. É tudo contigo.
Mujica já decidiu.
Jaime
Cimenti
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