11
de novembro de 2014 | N° 17980
MOISÉS MENDES
Nus
Estamos
diante de um fenômeno que já merece análises mais cuidadosas. Por que há tantos
flagrantes de gente vestida correndo nas ruas de Porto Alegre? O que levou oito
pessoas (algumas redes sociais falam em nove) a sair com roupas, como se isso
fosse absolutamente natural?
O
mundo evoluiu para os costumes atuais, da exaltação ao nu total, a muito custo,
a partir das mudanças do início do século. Estamos em pleno 2038. Estão
tentando voltar aos velhos tempos?
Todos
devem estar lembrados de como tudo começou, 24 anos atrás. De repente, como
toda mudança radical, descobrimos que a roupa era apenas um estorvo.
Foi
naquele ano que uma mulher saiu nua em Porto Alegre, e foi seguida por outra e
depois mais outra. Até que andar nu passou a ser o normal. E exportamos a moda
do nu para o mundo.
As
mulheres saíram nuas no Rio, em São Paulo, Bagdá, Milão, Nova York, Cabul,
Paris. Mas elas não aceitavam qualquer nu, queriam o legítimo nu gaúcho.
E
foi assim, todos estão lembrados, que os homens também passaram a sair nus
pelas ruas. No começo era estranho, porque muitos não tiravam o carpim e o
sapato social. E algumas cidades resistiram. Passo Fundo levou cinco anos para
aderir. Os passo-fundenses, lembre-se, andavam nus e de botas.
No
começo, era estranho ver executivos com pastas pretas e sem roupa. Alguns
continuaram usando a gravata como proteção. Mas só a gravata. Não deu certo a
tentativa dos tradicionalistas de usar lenço. Hoje, a gravata começa a ser
trocada pela opção de tatuar o adereço no peito, o que é muito mais prático.
Por
tudo isso, é surpreendente que oito pessoas vestidas tenham sido fotografadas
recentemente em aparições-relâmpago em Porto Alegre.
Com
que objetivo usam roupas? Seria mais um protesto contra o presidente Jean
Wyllys? Ou seria apenas uma jogada de marketing de alguma antiga grife chinesa,
na tentativa de ressuscitar o costume de usar roupas?
Só
para lembrar, o ano em que se decidiu que todos andariam nus foi aquele em que
o Grêmio goleou o Inter por 4 a
1 e poderia ter feito mais, poderia ter feito sete. Aquele ano em que o Lobão e
o filho do Bolsonaro lideraram uma tentativa de golpe. O ano em que liberaram a
maconha no Uruguai. Em que o Roberto Carlos comeu carne e depois cuspiu fora.
Foi
também o último ano de sucesso do Google e do Facebook. Quem se lembra do
Facebook, do Orkut e de um telefone que se chamava iPhone?
O
mundo pode até trazer algumas invenções de volta, mas não o incômodo das
roupas. É questão de bom gosto. Só falta aparecer um homem com terno de
ombreiras. Imagine uma mulher de corpinho. Por tudo isso, a passeata das
mulheres vestidas, programada para sair da Feira do iPad e ir até a ciclovia em
construção na Ipiranga, é um acinte.
É
claro que há coisas do tempo antigo das quais não podemos abrir mão. Ainda
amamos os Rolling Stones (Mick Jagger não envelhece!!!), e Paul McCartney deve
vir 14 vezes ao Brasil no ano que vem.
Mas
algumas coisas não se repetirão nunca mais. Como a blusa de gola rulê e esses 9 a 1 com que a Seleção comandada pelo
técnico Murtosa humilhou a Alemanha na final da Copa, na semana passada.
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