18
de novembro de 2014 | N° 17987
DAVID
COIMBRA
O CHORO DE
DALESSANDRO
Ainda
existe o chocolate Diamante Negro? Eu gostava muito, quando guri, e, mais
tarde, já crescido, sentia prazer especial em comer Diamante Negro com café, no
bar da Redação, em dia de chuva. Tinha de ser em dia de chuva.
O
Diamante Negro, não sei se você sabe, foi assim chamado em homenagem a Leônidas
da Silva, o Homem de Borracha, inventor da bicicleta no futebol, um dos maiores
centroavantes do Brasil em todos os tempos.
Paulão
é o Diamante Negro do Inter.
Depois
que ele marcou aquele lindíssimo gol numa bicicleta perfeita, domingo passado,
D’Alessandro dobrou os joelhos, apoiou a mão na grama do Beira-Rio e pôs-se a
chorar.
Fiquei
intrigado. Por que D’Alessandro chorava? Era um jogo contra o Goiás, um
adversário mediano, assistido por público mediano, um jogo que, a rigor, não
decidia coisa alguma. Porque, se o Inter ganhasse, como ganhou, não asseguraria
a vaga na Libertadores, como não assegurou. E, se empatasse, como estava
empatando, não significaria a desclassificação. Mesmo assim, um jogador já
veterano e com vasta história no clube, como D’Alessandro, chorou com o gol
marcado.
Por
quê? Aí está. D’Alessandro não chorou por causa do jogo contra o Goiás. Chorou
por causa do Gre-Nal.
D’Alessandro
compreendeu o Gre-Nal como poucos jogadores o fazem no Estado, e absorveu o
clássico como seu jogo pessoal. O Gre-Nal é, para ele, o que deveria ser para
todos os jogadores de Grêmio e Inter: um jogo, mais do que especial, único.
Porque o Gre-Nal, de fato, é, mais do que especial, único.
D’Alessandro
já sofreu outras derrotas duras e até trágicas no Inter – ele estava em campo
contra o Mazembe, por exemplo. Mas nunca sentiu tanto quanto a goleada sofrida
no Gre-Nal da Arena. Via-se isso em campo. D’Alessandro foi o centro de todas,
absolutamente todas as confusões ocorridas no clássico, e não foram poucas. Ele
se comportava como um garnizé, discutindo sem parar com seu eficiente marcador,
Fellipe Bastos, afrontando a quem quer que fosse, reclamando do juiz, do
adversário e do mundo, cometendo até faltas desleais, como a que cometeu em
Alán Ruiz, e, depois, já no vestiário, pedindo briga com um gandula, imagine
só.
Encerrado
o jogo, quem se apresentou para as entrevistas no lado do Inter não foi nenhum
dirigente; foi D’Alessandro. E, durante a semana subsequente à partida,
D’Alessandro passou o que nunca havia passado no Inter, porque houve outras
derrotas, inclusive em Gre-Nal, mas não dessa forma acachapante, de
superioridade insofismável. Então, D’Alessandro ficou sem voz e sentiu essa
derrota como se fosse sua. Era um caso pessoal. Mais do que o Inter, o Grêmio
havia goleado D’Alessandro.
Por
isso ele precisava da vitória, nesse primeiro jogo no Beira-Rio depois da
goleada. Para ter certeza de que a vida seguia em frente. Para que sentir de
novo a verdade do futebol: que um jogo após o outro é como um dia após o outro,
e que não há remédio mais eficiente para qualquer dor do que o tempo que
escorre.
Mas
a vitória não vinha, o que, para D’Alessandro, representava a continuidade da
dor. Ao vir, na bicicleta do Diamante Negro colorado, D’Alessandro sentiu alívio
profundo. E desabou.
Foi
bonito.
O
choro de D’Alessandro mostra que ele se importa. Mostra que não apenas o
Gre-Nal, mas o Inter, o Grêmio, os gaúchos e o que acontece no Rio Grande do
Sul fazem diferença para ele. O choro de D’Alessandro é o choro de todo
torcedor com a derrota e, justamente por esse motivo, por igualá-lo ao
torcedor, torna-o um jogador maior.
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