segunda-feira, 5 de maio de 2014

DANIELLE BRANT
DE SÃO PAULO

Bancos não devem fazer 'guerra' por novo cliente

Esforço será para reter tomador do crédito imobiliário, dizem consultores

Deve buscar mais a migração quem fez financiamento há pelo menos 5 anos, com taxa de juro maior que atual

Pelo menos no primeiro momento após a regulamentação da portabilidade do financiamento imobiliário, que permite a troca do empréstimo de uma instituição para outra que ofereça condições mais vantajosas, os bancos não devem abrir uma "guerra de taxas" em busca de novos clientes, afirmam consultores ouvidos pela Folha.

Procurados, quatro dos cinco maiores bancos do país --Bradesco, Banco do Brasil, Santander e Caixa Econômica Federal-- dizem estar prontos para adotar as normas da resolução do Banco Central, que entram em vigor hoje, mas foram evasivos quanto às estratégias de mercado. O Itaú não quis comentar o tema.

O Santander foi o único a detalhar um pouco seus planos. Afirmou que acompanhará de perto o comportamento do mercado de crédito imobiliário e, sempre que possível, oferecerá condições especiais para que o cliente vá para o banco e nele permaneça.

DISPUTA

A disputa por esse novo cliente, porém, não deve ser tão acirrada inicialmente, na análise de Miguel Ribeiro, diretor da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).

"Os bancos consideram que, se forem muito afoitos para roubar' clientes da concorrência, vão sofrer a mesma investida. O que vejo é um movimento das instituições para segurar seus melhores clientes", afirma.

FIDELIZAÇÃO

"O financiamento imobiliário é um dos mais baratos do mercado, mas de longo prazo. A grande vantagem para o banco nesse segmento é a fidelização do cliente, que poderá, ao longo do tempo, adquirir mais produtos, como previdência e outros investimentos", acrescenta.

Claudia Martinez, diretora do Banco Máxima, também não vê uma "guerra de taxas" no momento.

"Há uma pequena margem para redução das taxas do crédito imobiliário. Para que a portabilidade tivesse um impacto relevante, a diferença entre as taxas cobradas pelos bancos teria que ser maior." Hoje, os juros variam de 8% ao ano a 12% ao ano, aproximadamente.

CRÉDITO ANTIGO

Para Pedro Seixas Corrêa, professor de economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), a procura maior pela portabilidade do financiamento deve ser dos consumidores que tomaram crédito há pelo menos cinco anos, quando os juros eram mais altos que os de hoje.

A partir de meados de 2011, o juro básico (a taxa Selic) caiu até chegar ao menor patamar da história, de 7,25% ao ano, em que permaneceu entre outubro de 2012 e abril de 2013.

"Para o consumidor que tomou crédito nesse período de baixa de juros, vai ser mais difícil encontrar novas propostas que compensem a migração do crédito", diz Corrêa.

Ione Amorim, economista do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), acredita que a portabilidade vá ter mais utilidade no futuro, quando as taxas de juros voltarem a cair.


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