Jaime
Cimenti
Até sempre, Mario Quintana!
Há vinte
anos Mario Quintana bateu suas asas de Anjo Malaquias e foi viver na estrela de
Aldebaran. Menino do Alegrete, escreveu poemas universais, falando de amor,
casas, ruas, morte, vida, tempo, amigos,
anjos, velhas tias, sapatos, janelas e muitas outras coisas ditas
simples. Foi chamado de “poeta das coisas simples”, mas sua ironia, sua
profundidade e sua perfeição técnica, inclusive como tradutor de mais de 130
livros e sua ampla gama de temas mostra que mereceu ser chamado de “poeta de
amplo espectro”.
Em
termos farmacêuticos, sua obra mágica, que lê a todos nós, poderia ser chamada
da maravilha curativa. É cura para todos, ou quase todos os males. Tentaram
classificar Quintana como neomodernista, pós-moderno, lírico, romântico,
antimodernista, neosimbolista e não sei o que mais. Até de surrealista o
carimbaram. Avesso a rótulos, limitações e manifestos efêmeros, Quintana nunca
foi de bater continência em quartéis poéticos e obedecer a cartilhas de escolas
literárias. Sempre foi ele mesmo, mais para eterno do que para moderno.
Quintana
nunca andou na moda. Ele era e é a moda. Sem fazer concessões e sem aceitar
limites estéticos, partidários, políticos ou outros quaisquer, Quintana
confessou poeticamente seu tempo e sua vida, que também são os nossos, e nos
faz lembrar que a poesia é maior e mais importante do que o poeta. Como Gardel,
Quintana
está cada vez melhor e maior, ao contrário do que alguns equivocados andavam
prevendo. Suas obras são reeditadas e sua poesia segue inspirando canções, peças
teatrais, filmes e outras expressões artísticas. A pátina do tempo vai
revelando novas visões dos poemas de Mario. Nos julgamentos do tempo e dos
leitores, que são os que mais valem, Quintana passa, suavemente, de goleada.
Quintana
é imortal pelo povo. Quintana caiu na boca, no coração e na alma do povo, como
os grandes poetas. Grande Quintana, não precisou se refugiar e morrer nos
pequenos e mofados mausoléus acadêmicos para ganhar a eternidade. Quintana nos
mostra que a rebeldia, a criatividade, a vida e os recomeços é que importam.
Quintana
nos ensinou a não aceitar conselhos, nem os dele. O resto é o resto. “Todos
esses que aí estão/ atravancando meu caminho/ eles passarão/ eu passarinho!” Poeminha
do contra de Mario Quintana, tipo testamento a favor da liberdade e do
inconformismo, está aí para quem quiser e precisar.
Está
aí para espantar pensamentos, pessoas, literatos e outros tipos e coisas
menores, que por vezes ficam empatando ou tentando empatar nossos caminhos. Gracias,
até sempre, Mario!
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