quarta-feira, 14 de maio de 2014


14 de maio de 2014 | N° 17796
 PAULO SANT'ANA

O órfão desprezado

Apareceu mais um autor ou coautor do assassinato do menino Bernardo Boldrini em Três Passos: o irmão da amiga da madrasta do menino, esta já confessa do hediondo crime.

O novo apontado como autor ou coautor do assassinato foi preso no sábado e se soma agora como acusado à madrasta da vítima, sua amiga e o pai do garoto.

Como se nota, era um consórcio de assassinos contra uma pobre criança desavisada que foi assassinada solertemente, enganada e levada ao cadafalso pela crueldade dos autores.

Reuniram-se os assassinos, assassinaram a criança e depois foram enterrá-la lá longe, em Frederico Westphalen.

E cada um a sua maneira pretende agora diminuir a sua responsabilidade, eis que o inquérito já a definiu robustamente.

Já está provado que tanto a madrasta quanto o pai do garoto o desprezavam. O que não se sabia e já se sabe agora é que o móvel do crime foi esse ódio que a madrasta tinha pelo garoto e a indiferença fria que o pai tinha pelo seu filho em vida.

Evidentemente que um tal motivo não seria suficiente para matar a criança. Mas acresceu-se a ele a crueldade dos autores, para quem simplesmente em vida a vítima era somente uma atrapalhação.

Esse crime é inominável e já entra para os anais dos mais famosos assassinatos ocorridos no Rio Grande do Sul em todos os tempos.

Para atrair o garoto ao local em que o matariam, prometeram que iriam comprar um televisor para ele. Nem isso fizeram antes de matá-lo, certamente para economizar a quantia que gastariam com o aparelho.

O caso é um tratado psicológico do ódio que uma madrasta dedica a um enteado sob a visão omissa ou coautora do pai.

Desprezo o pai tinha pelo seu filho. Ódio tinha a madrasta pela criança. Mas esses dois sentimentos não seriam suficientes para tirar a vida do menino. Era preciso mais: a crueldade.

As autoridades que lidaram com o menino, quando ele foi pedir-lhes que interviessem imediatamente em sua criação, devem estar tomadas pelo remorso de que não agiram de forma a tirar do jugo paterno e da madrasta o infante desgraçado. Nunca mais se livrarão desse remorso.

Morreu uma criança indefesa que, no entanto, havia antes de morrer pedido socorro às autoridades. Foi abandonada à própria sorte, ou melhor, ao seu azar.

Abandonou-a à própria sorte seu pai, abandonou-a antes de matá-la a madrasta, isso só já seria crime. Mas ainda sofisticaram ao preparar o ato do homicídio: nenhuma piedade tiveram os assassinos de uma criança sozinha, órfã de uma mãe que, se fosse viva, seria sem dúvida a única pessoa que poderia salvá-la dessa trama sórdida.


Que episódio tocante e rico de falta de humanidades!

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