11 de maio de 2014 | N°
17793
VIDA INTERIOR | Diana
Corso
Feliz dia da(o)s mães
AS MULHERES SE libertaram ao
ceder espaço e dividir os dons parentais em casa
Sábado de sol, o jovem pai empurra um carrinho de
bebê. É aquele tradicional passeio antes do almoço cedo, seguido do primeiro
soninho da manhã. Quem conviveu com bebês conhece a rotina. O carrinho está,
como de costume, carregado com mamadeira, panos, bico e brinquedos, assim como
as sacolas de compras que pegam carona. O bebê faz um comentário, o rapaz
circunda o carrinho e, abaixando-se na sua frente, conversa com ele. O diálogo era
inaudível, mas a resposta aparentemente satisfaz o pequeno interlocutor. Feito
isso, retoma-se o passeio, não sem antes ajeitar qualquer coisa na roupa do
filho.
Você percebe quantas novidades há
nessa cena? Certamente evoluímos. Não creio que esse pai estivesse com seu
filho por ter qualquer questão com sua virilidade. Tampouco estaria “tapando um
furo” da mãe ocupada com outra tarefa. Pela naturalidade de suas reações,
imagino que ele entendia sobre bebês, sabia trocar fraldas, dar banho, suportar
noites de febre, compreender os diferentes choros. O leitor dirá que os homens
não se transformaram tanto assim. É claro, não todos, mas já são em grande
número e, lhe asseguro, são a imagem do futuro.
Além da postura “maternal”
daquele homem, há outra novidade na cena: é o diálogo com um bebê, uma criatura
que ainda não tem linguagem clara. A maioria de suas palavras são de fabricação
caseira, somente acessíveis aos iniciados. Juntam-se em frases lacônicas,
compreensíveis mediante a observação da mímica corporal. Por isso, a
comunicação com os bebês torna-se possível somente quando fazemos o gesto
daquele homem: nos colocamos na altura deles, atentos ao que dizem com voz e
gestos. Não faz muito tempo que falamos com as crianças e faz muito menos que o
fazemos com os lactentes.
Sigo com minhas suposições sobre
a dupla encontrada na rua: acredito que ao lado desse pai haja uma mãe menos
sobrecarregada e que soube repartir velhos privilégios. O conhecimento das
lides maternas era reserva de mercado feminino – ele não leva jeito para isso,
eu é que sei – diziam as antigas.
Ceder espaço libertou as
mulheres, mas também democratizou conhecimento: permitiu que os homens saíssem
da alienação doméstica em que viviam. Eles podiam ter até poder, mas na
intimidade eram dependentes e ignorantes do essencial. Os dons parentais agora
podem circular, há pais muito capacitados para oferecer aconchego e mães que se
revelam mais destras do que eles em colocar limites. São novidades bem-vindas,
porque o resultado é uma criança que conta com dois adultos que a escutam e
olham nos olhos.
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